Abdalaziz de Moura Xavier de Moraes

O Autor

O Educador Abdalaziz de Moura Xavier de Moraes completou 80 anos em outubro de 2022. Reside no município de Gravatá – PE. Dedica-se atualmente em inspirar pessoas e instituições que adotam a Pedagogia que ele criou e sistematizou.

INSTITUTO-48-removebg-preview

Germano de Barros Ferreira

Gravatá, fevereiro de 2020

QUEM É ABDALAZIZ DE MOURA NO CAMPO DA EDUCAÇÃO E NA EDUCAÇÃO DO CAMPO?

1. O Educador Abdalaziz de Moura Xavier de Moraes, conhecido como Moura, em 2020 completa 50 anos de dedicação à causa da Educação. Atuou nos primeiros sete anos de vida profissional junto a Dom Hélder Câmara, Arcebispo de Olinda e Recife, no Estado de Pernambuco - Brasil. Liderou durante este período de 1970 a 1977 a formação de animadores/as dos grupos do Movimento de Evangelização “Encontro de Irmãos”.

2. Nesta região formou trabalhadores operários, camponeses, assalariados, aposentados, comerciários, homens e mulheres, jovens, dos bairros da região metropolitana e dos sítios, engenhos, fazendas, comunidades, povoados rurais. Para isso, preparava um boletim mensal e usava um programa diário de rádio de 10 minutos e na segunda-feira apresentava um programa de 30 minutos com Dom Hélder Câmara.

3. Nos finais de semana estava com os monitores e monitoras que coordenavam os grupos de debate e de ação nas comunidades. Depois de 1977 a 1984 foi expandir este trabalho formativo com as Comunidades Rurais da Diocese de Petrolina-PE. Além da presença com a equipe nas comunidades, fazia uso de um programa semanal de 30 minutos e um diário de 10 minutos na Emissora Rural a Voz do São Francisco, a líder em audiência no sertão.

4. Conviveu em períodos de bom inverno, como de seca e estiagem prolongada, como a de 1980 a 1983. Animou mobilizações sociais para melhorar a qualidade da produção, a organização de bancos de sementes, a criação de associações comunitárias, as mobilizações com os sindicatos, grupo de mulheres, de jovens, de casais, desenvolvendo sempre estratégias de Mutirões para fazer frente aos problemas identificados pelas comunidades.

5. Foram 14 anos de convivência muito próxima com o cotidiano da vida das famílias, do litoral ao Sertão de Pernambuco, da capital ao interior. Exatamente, um período onde a Igreja Católica no Nordeste, com a liderança de Dom Hélder Câmara atuava de forma muito comprometida com as causas populares, inspirada na experiência do Concílio Vaticano II. O desafio maior era sempre com formar pessoas para transformar a realidade.

6. Segundo o autor, este desafio era encontrar um jeito das pessoas aprenderem o que, o como e o para que mudar a realidade na qual estavam inseridas, mudando situações indesejadas, em situações desejadas. Mudanças estas que não deveriam ser apenas nos elementos externos na agricultura, no trabalho, na saúde e na educação... Mas também, nas pessoas e nas suas relações, nos valores e concepções, na mente e no coração.

7. Na época, duas inspirações foram fundamentais para o autor. A primeira foi a do evangelho, como luz inspiradora para comprometer as pessoas com a mudança de vida, que tivesse consequência na prática social e no cotidiano, que não se restringisse apenas à compreensão dos textos bíblicos, ou a participação nas práticas religiosas. A outra foi a da Educação Popular, com a inspiração de Paulo Freire.

8. Por conta deste trabalho que foi de 1970 a 1984, Moura foi convidado para fazer a Coordenação Pedagógica do Centro de Capacitação e Acompanhamento aos Projetos Alternativos – CECAPAS, uma entidade criada pela Conferência dos Bispos do Nordeste II2 (RN, PB, PE e AL) para formar pessoas introduzindo a Produção Orgânica como alternativa aos sistemas de produção convencional, onde ficou de 1985 a 1989.

9. Este trabalho ampliou a atuação territorial e incluiu a dimensão da agroecologia, da permacultura, da produção e das tecnologias alternativas, de baixo custo, que passaram a fazer parte da síntese e da interação entre os elementos da Educação Popular e a inspiração do evangelho. Em 1989, o autor com um grupo de técnicos e lideranças camponesas criou o Serviço de Tecnologia Alternativa – SERTA, onde atua até hoje.

10. A partir do Serta, a presença mais intensa dos técnicos com as famílias, possibilitou uma aproximação com as escolas das redes públicas dos municípios e a descoberta de que os estudantes do campo eram preparados nas escolas para deixar o campo à procura da cidade. “menino, estude, se não, você vai ficar no cabo da enxada como seu pai”. Era a motivação que a família e a escola passavam para os alunos do campo.

11. Seria possível uma escola que em vez de satanizar o campo como lugar de pobreza, de atraso, de carências, descobrisse o potencial econômico, cultural, ambiental, humano e social do campo? E que, em vez dos alunos terem vergonha de suas origens e identidade, pudessem ter orgulho? Onde, com os conhecimentos gerados na escola pudessem investir nas propriedades, transformar a realidade do lugar?

12. Se for possível, como fazer, onde se inspirar para pensar outros modelos? Diante destes desafios Moura começou a desenhar uma alternativa metodológica, para um outro modelo de escola pública e uma educação transformadora. Foi buscar inspiração na sua experiência anterior de 20 anos junto às pastorais da igreja e a Educação Popular. E daí, passou a operar uma nova síntese entre a Educação Popular e o Ensino Escolar.

13. Começou a construção desta Pedagogia que você poderá conhecer agora. Primeiro, com um nome de “Proposta de Educação Rural - PER”. Logo ultrapassou as fronteiras do rural e passou a ser chamada de “Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável – PEADS”. Em seguida, ultrapassou o ambiente escolar e o Serta adotou o nome de “Programa Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável - Peads”.

14. Mais recentemente, a partir da terceira jornada pedagógica da Peads em julho de 2019, foi incorporada como uma Pedagogia, sendo adotada por escolas, secretarias municipais, ong, movimentos sociais, agricultores familiares, consumidores, arteducadores/as, de diversas regiões e estados. Constatou-se que a Pedagogia era mais do que Proposta ou Programa, e que ultrapassava muito a instituição que lhe deu guarida até então.

15. Daí a ideia da construção desta página na internet para que as pessoas que quiserem ter acesso a todo o acervo do autor principal, Abdalaziz de Moura possa encontrar em um lugar. Estão sendo disponibilizados textos didáticos, relatórios, fichas pedagógicas, vídeos, roteiros, experiências e vivências. Divulgue junto aos seus pares, amigos, colegas de trabalho e de profissão, estudantes, professores, lideranças sociais.

Gravatá, fevereiro de 2020
Germano de Barros Ferreira

Valdiane Soares da Silva

Gravatá, 04  de ezembro de 2019 

 NOTAS SOBRE O AUTOR DO LIVRO “UMA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO DO CAMPO QUE FAZ A DIFERENÇA PARA O CAMPO”

Abdalaziz de Moura Xavier de Moraes nasceu em Nazaré da Mata, município da Zona da Mata Norte do Estado de Pernambuco em 1942, décimo segundo filho de Henrique Xavier de Moraes e Dolores de Moura Xavier de Moraes. Em 1950, a família transferiu-se para Recife, em busca de condições de trabalho dos filhos.

Estudou em Recife, no Bairro da Torre-Madalena o ensino primário de 1951 a 1954 e a partir de 1955 ingressou no seminário onde concluiu o ginásio (atualmente ensino fundamental) e o curso clássico (atualmente ensino médio) em 1960 no Seminário Arquidiocesano da Várzea, em Recife.

A partir de 1961 passou a estudar o curso de filosofia, na reabertura do Seminário de Olinda, como Seminário Regional do Nordeste. No mesmo seminário ingressou no curso de Teologia em 1964, onde ficou até o primeiro semestre de 1966.

Depois dos dois anos e meio foi concluir a teologia na Universidade Gregoriana de Roma, morando no Colégio Pio Brasileiro, onde ficavam os estudantes brasileiros que frequentavam essa e outras universidades internacionais. Permaneceu até julho de 1968.

No inverno de 1968/1969 frequentou o Instituto Ecumênico de Bossey, da Universidade de Genebra – Suíça em regime de internato fazendo uma especialização sobre a Evangelização no Mundo Contemporâneo, com participação de estudantes de 21 países.

Na primavera frequentou por 3 meses o Instituto de Pesquisa de História das Religiões, famoso centro de pesquisa que assessorou bispos do mundo inteiro durante o Concílio Vaticano II. Retornou ao Brasil, em agosto de 1969 e permaneceu até dezembro estudando e coordenando estagiários do Instituto Superior de Pastoral e Catequese do Rio de Janeiro.

Publicou seu primeiro artigo na Revista Eclesiástica Brasileira – REB em março de 1971 – O PENTECOSTALISMO COMO FENÔMENO RELIGIOSO POPULAR NO BRASIL (REB, Volume XXXI, março 1971, Fasc. 121, pp 78 a 94), tema estudado em Bologna e Rio de Janeiro.

Mesmo estudando no Seminário, ao chegar no terceiro ano de teologia não assumiu o compromisso de ordenar-se sacerdote, porém, comprometeu-se em concluir o curso de teologia, fazer especialização e trabalhar como teólogo leigo, a serviço da igreja que vivia na época intenso movimento de mudança para adequar-se ao Concílio Vaticano II.
Retornando a Recife no início de 1970, Dom Helder Câmara, então Arcebispo de Olinda e Recife, acolheu as propostas de trabalho apresentadas por Abdalaziz para um trabalho de evangelização nas comunidades populares. Passou a fazer parte da Equipe Diocesana responsável pela Coordenação do Movimento de Evangelização “Encontro de Irmãos”.
Na época de muita repressão do Governo Militar, Dom Helder com sua equipe de catequese criou esse movimento para viabilizar voz e vez ao povo que via todas as suas instituições e seus movimentos reprimidos.

Abdalaziz passou a ser responsável com uma equipe diocesana pela formação dos monitores dos grupos, a publicação de um boletim mensal e a produção e apresentação de um programa diário na rádio Olinda e um semanal com o Arcebispo Dom Helder Câmara.
Esse movimento passou a ser referência no Nordeste e no Brasil de trabalho de evangelização a partir das comunidades de base, utilizando as metodologias participativas das pastorais e da Educação Popular. Vinha pessoas de todo o Brasil e exterior conhecer pelo pioneirismo e pelos protagonismos das mulheres, dos trabalhadores, dos camponeses na evangelização, eram pobres evangelizando os pobres.

Depois de sete anos de 1970 a 1977, Abdalaziz foi convidado para desenvolver um trabalho semelhante na diocese de Petrolina, em um projeto de animação das comunidades rurais, apoiado também por um programa diário de rádio e um semanal.

Com uma equipe, o projeto visitava comunidades de Petrolina, Ouricuri, Araripina, Salgueiro, Bodocó, Exu, Santa Maria da Boa Vista, Afrânio, Dormentes, Lagoa Grande. O projeto animava ações comunitárias, sindicais,religiosas, culturais, de organização comunitária, com agricultores familiares, mulheres e jovens.

Nesse período, por conta dos resultados alcançados em termos de convivência com o semiárido, Abdalaziz foi convidado pela Conferência dos Bispos do Nordeste II para fazer a Coordenação Pedagógica de um Centro criado para formar agricultores, técnicos e agentes pastorais para uma nova dimensão nos trabalhos das pastorais: a relação com a agricultura orgânica, o meio ambiente, e a sustentabilidade.
Foi em Pesqueira, no CECAPAS – Centro de Capacitação e Acompanhamento aos Projetos Alternativos, criado pelo então Sub Secretário Geral da CNBB, Enes Paulo Crespo de 1985 a 1989.

Durante o tempo do CECAPAS, em 1985, Abdalaziz participou de um estágio de dois meses no CEDAL, Centro de Estudos para a América Latina, conhecendo organizações camponesas e estudando sobre o Desenvolvimento Local, fazendo estudo comparado com as experiências da França e do Brasil.

Em 1987 participou do Curso sobre Tecnologias e Desenvolvimento Local em Santiago do Chile com a equipe do CET – Centro de Educación y Tecnologia do Chile, instituição de Referência em termos de agricultura orgânica e agroecologia.

Até então todas essas iniciativas eram articuladas com a Igreja Católica do Nordeste. A partir de agosto de 1989, Abdalaziz com um grupo de líderes agricultores e técnicos em agropecuária fundou o Serta – Serviço de Tecnologia Alternativa para dar sequência ao trabalho iniciado pelo Cecapas, com articulações das pastorais das dioceses, movimento sindical e comunidades eclesiais de base e movimentos populares do campo, porém com autonomia própria.

O trabalho do Serta nas comunidades do agreste setentrional e central levou o Serta a um contato muito profundo com as comunidades rurais e as famílias e com as escolas. De 1991 a 1993 o Serta liderado por Abdalaziz começou a construir as primeiras ideias do que se tornou a PEADS – Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável, uma metodologia de Educação Escolar do Campo.

Essa experiência evoluiu, foi sistematizada no primeiro livro PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DA PROPOSTA EDUCACIONAL DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, uma proposta que revoluciona o papel da Escola diante das pessoas, da sociedade e do mundo – Serta 2003. Recife, Segunda Edição.

O envolvimento com essa proposta levou o autor a retomar os estudos, iniciando por uma especialização em Educação Popular pela UFPB em 1987 e o mestrado em Educação pela UFPE em 1978. Concluídos os créditos, não deu para apresentar a dissertação do mestrado. Mas em 2002, em um curso de especialização sobre Liderança no Instituto Tecnológico de Monterey no México, apresentou a monografia sobre o tema, a PEADS.

O Livro sobre os Princípios e Fundamentos da Peads para as escolas do campo tornou-se uma referência em Educação do Campo. Antes desse e depois, muitos outros textos foram escritos para subsidiar a ação formativa com professoras do campo, jovens e agricultores familiares. São esses textos que constituem o atual livro, UMA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO DO CAMPO QUE FAZ A DIFERENÇA PARA O CAMPO.

Além destes dois muitos outros textos, relatórios, roteiros de estudo foram escritos e completam as produções que constam nesta página que você está tendo acesso.

Gravatá, 04 de dezembro de 2019
Valdiane Soares da Silva

Rolar para cima