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CONSÓRCIO DOS MUNICÍPIOS NA ZONA DA MATA – PE
Catende
Panelas
São Benedito do Sul
Vicência
RELATÓRIO DA TERCEIRA ETAPA DA CAPACITAÇÃO E DOCUMENTO DE TRABALHO PARA O SEGUNDO SEMESTRE
Junho e julho de 1999
CAPACITAÇÃO DE PROFESSORAS/ES, MONITORAS/ES, EDUCADORAS/ES DE APOIO, COORDENADORAS/ES E GESTORAS/ES
RESULTADOS DO ENCONTRO DE AVALIAÇÃO E PLANEJAMENTO DOS MUNICÍPIOS QUE INTEGRAM O CONSÓRCIO DOCUMENTO DE TRABALHO A PARTIR DOS ENCAMINHAMENTOS DO ENCONTRO
EQUIPE TÉCNICA RESPONSÁVEL
ABDALAZIZ DE MOURA XAVIER DE MORAES
ANTÔNIO ROBERTO MENDES PEREIRA
FRANCISCO DAS CHAGAS DANTAS
LAEL GOMES PONTES
ELIO JOSÉ DE SOUZA
LUIZ. F. C. ALVES DA SILVA
RILDO TOMÉ DE GOUVEIA
SEVERINO R. LOPES JÚNIOR
SERVIÇO DE TECNOLOGIA ALTERNATIVA
Rod. PE 50 Km 14, Campo da Sementeira – Zona Rural
CEP 55620-000 – Glória do Goitá – PE
Fax: (081) 3658.1265 – Tel.: (081) 3658.1226
e-mail: [email protected]
APRESENTAÇÃO
O CONSÓRCIO DOS MUNICÍPIOS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL realizou o seu primeiro encontro este ano nos dias 29 e 30 de julho. Contou com a presença de 75 pessoas e uma representação da Comissão Estadual de Erradicação e Prevenção do Trabalho Infantil e da SEPLANDES. Só o registro mínimo das plenárias dos grupos e dos municípios ocupou 14 páginas. Depois do encontro, a Equipe Técnica do SERTA passou os dias 2, 3 e 4 de agosto, reunida, retomando todas as questões discutidas no encontro. Tentamos arrumar essas idéias básicas para poder discutir internamente e com os municípios, sobretudo no que toca aos desafios, demandas e possibilidades para o segundo semestre e o futuro.
Portanto, você está recebendo não um relatório tradicional de encontro, que muitas vezes, apenas se lê e se guarda. Mas um documento de estudo, que deve permanecer um referencial para as atividades do CONSÓRCIO. É um documento com questões para estudo, reuniões, planejamento, aprofundamento. Deve ser lido pelo máximo possível de sujeitos sociais envolvidos nas atividades em busca do Desenvolvimento Municipal. Cada grupo veja como fazer que outros tenham acesso a este documento.
1. AS POSSIBILIDADES DE FORMAÇÃO PARA O SEGUNDO SEMESTRE
As primeiras capacitações do processo de formação das professoras/es, monitoras, educadoras de apoio foram realizadas no primeiro semestre pelo SERTA. Programa idêntico estava sendo pensado para o segundo semestre, inclusive com datas já agendadas. Que demandas e possibilidades novas, o encontro revelou?
1.1 CAPACITAÇÃO DIFERENCIADA E DIVERSIFICADA
Os testemunhos durante o encontro revelaram que tem pessoas que estão indo muito bem na Proposta de Educação, e tem pessoas ainda com dificuldade. Tem lugar onde a ligação das duas jornadas vai ótima, mas tem lugar ainda que deixa a desejar. No meio rural e no ensino fundamental encontrou-se mais facilidade, no urbano e no ensino médio encontrou-se menos. Tem grupos desejando capacitações específicas. Saíram pedidos e sugestões no encontro. Podemos organizá-los da forma que segue.
1.1.1 Uma capacitação específica para aquelas pessoas que estão encontrando mais dificuldade.
Nessa, estudar-se-ia as dificuldades mais concretas, suas origens, se são das pessoas, se são da sistemática de trabalho, se é domínio das disciplinas, se é compreensão da metodologia ou dos princípios, se é a ligação maior com os conteúdos específicos das disciplinas, se é dificuldade de se relacionar com as famílias etc.
1.1.2 Capacitação para grupos que tem as mesmas situações. Por exemplo:
– Os núcleos que só tem jornada ampliada. Todos os quatro municípios têm. Poderia até juntar mais de um município. As educadoras destes núcleos têm uma participação diferente na Proposta, daquelas que estão nos engenhos, com apenas uma ou duas salas de aula, que a professora da primeira jornada tem os mesmos alunos da segunda jornada. Uma única professora, tem os alunos de uma única monitora.
– Professoras/es e monitoras/es das escolas pequenas dos engenhos, que acabamos de exemplificar. Têm um contato mais próximo das famílias, sabe onde seus alunos residem, às vezes moram na mesma comunidade.
– Professoras/es das aulas de química, física, matemática da quinta série em diante. Essas/es poderiam se capacitar de forma mais específica em alguns momentos.
– Professoras/es que tem alunos nas escolas urbanas, que participam na segunda jornada, estão nos núcleos. O município precisa encontrar uma forma especial de discutir com elas a Proposta, mesmo que na área urbana, não esteja sendo aplicada.
– Uma escola grande, que precise de uma capacitação especial.
– Estas formas de capacitação não precisam ser de 3 dias como as do primeiro semestre, nem precisam ser necessariamente com os técnicos do SERTA. Podem ser oportunidades mais permanentes (mensal, bimensal, trimestral) no próprio município com as educadoras de apoio e coordenação. O SERTA poderia estar ou não presente.
1.1.3. Capacitação com temática específica:
São Benedito e Vicência, por exemplo, estão demandando capacitação específica para as educadoras das áreas com projetos e possibilidades turísticas.
As escolas que vão desenvolver projetos de criação de galinhas, como serão muitas, precisarão de uma capacitação específica. Isso já aconteceu com as hortas em Vicência
Muitas escolas descobriram vocações que gostariam de se aprofundar mais na produção agropecuária, no meio ambiente, nos princípios e metodologias da Proposta etc. São temáticas que podem interessar um grupo, e com o SERTA ou com as pessoas do município ou até com outros grupos, pode se estudar um dia, mais dias.
1.1.4. UMA TEMÁTICA MUITO PARTICULAR: A QUESTÃO DO CURRÍCULO
A relação do currículo com a Proposta continua sendo o bicho papão, a maior dificuldade segundo as professoras/es. Para nós do SERTA, a dificuldade não é tanto o currículo, mas a compreensão da Proposta que ainda é fragmentada, inicial. Porém, se as educadoras sentem como a maior dificuldade, temos que considerá-la assim. Quais pistas, o encontro do CONSÓRCIO, apontou sobre o currículo?
– É uma questão que não vai ser resolvida de uma vez só. Não depende só de capacitação. Mais do que uma capacitação, vai ser preciso uma programação de estudo ao longo do semestre e nos próximos anos. O SERTA está propondo um encontro específico com representante dos 4 municípios para encaminhar essas sugestões. Algumas idéias poderemos adiantar para que cada município possa também ir pensando.
– É preciso identificar mais onde está a dificuldade: é em algumas disciplinas e em outras não se encontra? É com toda uma disciplina, ou só com alguns aspectos de determinada disciplina? Quais neste caso, são os aspectos? Acontece com o conteúdo das diversas séries, ou é mais específica em algumas? A dificuldade é da relação da disciplina com a Proposta ou é da educadora/or? No município, existe pessoas que estão conseguindo fazer a ligação e existe quem não esteja? O que explica a diferença?
– Cuidado para não criar desculpas fáceis: Precisamos estar atentos para não fazer de uma dificuldade concreta, que pode ser superada, uma desculpa fácil para todas as falhas na condução da Proposta. Podemos nos perguntar se o empenho for maior, a questão do currículo não seria mais bem encaminhada? Se a sistemática de monitoramento e acompanhamento das educadoras de apoio para com as professoras e monitoras for mais estruturada, a questão do currículo estaria pesando tanto assim? Sabemos que há professoras e monitoras, querendo aplicar a Proposta, sem nem sequer ter estudado as três FICHAS PEDAGÓGICAS para este ano. Como será possível a uma pessoa assim, fazer a ligação dos conteúdos disciplinares com a Proposta?
1.1.5. ALGUMAS PROPOSTAS SOBRE O CURRÍCULO
– Que tal as professoras de primeira série conversarem mais sobre sua prática e observar a relação dos conteúdos com a Proposta? Estudar as possibilidades, trocar experiências, solicitar um apoio específico etc.
– Que tal as professoras da segunda série fazerem o mesmo? Que tal com outras séries?
– Que tal fazer alguma reunião, ou juntar um grupo para aprofundar mais a questão no município? Ler um texto de Henry Giroux, ou de Peter MacLaren? Que tal conhecer mais a fundo os Princípios e Metodologia da Proposta, fazendo um estudo dos documentos, relatórios, Fichas Pedagógicas?
– Que tal o CONSÓRCIO com o SERTA organizar um ou dois dias de estudo com os 4 municípios para aprofundar mais a questão? Para acontecer, é preciso que primeiro haja um esforço maior para entender mais a Proposta. Cremos, que um entendimento maior da Proposta, vai facilitar muito a superação dessa dificuldade.
2. CONFERÊNCIA MUNICIPAL E DEVOLUÇÃO DOS CENSOS PARA AS COMUNIDADES
Estamos vendo o que a aplicação da Proposta já produziu no município, com apenas as primeiras etapas da FICHA PEDAGÓGICA, com apenas os primeiros ensaios de devolução. Poderemos imaginar o que vai ser, quando as quatro etapas da FICHA PEDAGÓGICA forem aplicadas! O encontro revelou que as educadoras/es estão conseguindo fazer a pesquisa. Alguns desdobraram bem os dados e aprofundaram, produziram novos e inovadores conhecimentos. Pouquíssimos fizeram a devolução dos conhecimentos produzidos para as famílias.
Foi geral a orientação para que no segundo semestre, houvesse capricho nesta etapa e na avaliação. Se os Censos forem sendo sistematizados e apresentados para novos debates, para novas ações, as CONFERÊNCIAS estarão sendo preparadas. A CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL se dará quando todos dos censos forem sistematizados nas classes, nos turnos, nas escolas, nas comunidades.
Seria muito positivo se os dados dos Censos fossem também apresentados para outros grupos. Adiantaria bastante a preparação da CONFERÊNCIA MUNICIPAL sugestões:
1. Em assembléia do Sindicato de Trabalhadores Rurais ou outro sindicato.
2. Em reunião municipal de associações, cooperativas etc.
3. Numa sessão especial da Câmara dos Vereadores.
4. Para os clubes de serviços, tipo Rotary ou Lions.
5. Nas igrejas católica e evangélicas, nos centros espíritas.
6. A funcionários e secretários municipais.
7. Para as escolas urbanas que não participaram diretamente dos censos (Catende e Vicência).
Cada apresentação de um Censo, vai acumular mais experiência, mais arte, mais comunicação. As crianças, os adolescentes, as educadoras/es vão adquirindo desenvoltura e prática. Vai virar um costume no município, as escolas prestarem conta do que produziram. Essa é a melhor forma de incorporar a Proposta e garantir sua consolidação e continuidade.
É possível aumentar o intercâmbio tanto dentro do município, como fora. Cada vez que for haver uma devolução, poder-se-á convidar pessoas de comunidades vizinhas e educadoras, autoridades, lideranças, para participarem. Não vamos fazer isso para imitar, mas para apoiar e se inspirar, para sempre melhorar os debates.
A aplicação dos Censos e a devolução para as comunidades e grupos organizados vão provocando ações nas mesmas. São ações pequenas, imediatas, de fácil mobilização. A CONFERÊNCIA MUNICIPAL deverá provocar ações municipais, com maior estudo, com maior planejamento e compromisso de todos os munícipes. A CONFERÊNCIA será o grande evento que legitimará a Proposta diante da Sociedade e apontará para o município do próximo milênio.
3. A CONTINUIDADE DA PROPOSTA: E COMO VAI SER NO FUTURO, QUANDO MUDAR OS DIRIGENTES?
Uma pergunta que foi feita diversas vezes no encontro. Está havendo muito compromisso da gestão atual, quem garante nas próximas? O SERTA já viveu duas experiências assim: uma gestão apoiou e a outra não.
Podemos destacar três orientações básicas que surgiram nos debates:
A primeira apontada na fala de Roberta, Secretária Municipal em São Benedito do Sul. “Precisamos incorporar essa Proposta na rede e sistema de ensino”. Não se trata de uma Proposta de gestão A ou B. Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), cada município pode propor para si, a Proposta Educacional que vai desenvolver. Para isso, precisa ser bem elaborada, com justificativa, base teórica, metodologia, currículo. Com essa construção, apresenta-se o Projeto de Lei para a Câmara de Vereadores votar a Proposta como lei para o município. Votada em Lei, o prefeito/a que vier depois, só poderá mudar mediante a reforma da Lei.
Segunda orientação foi apresentar a Proposta ao máximo possível de sujeitos e atores sociais, para que conheçam, participem, amem e percebam o quanto a mesma pode trazer para o município. Com esse movimento, a Sociedade como conjunto, vai incorporando como aconteceu com o Consórcio. Lembram-se de quando, alguém falava durante o encontro na “Proposta do SERTA”, Gláucia, Secretária Municipal em Panelas, reivindicou: “Proposta do SERTA não! Proposta Nossa, do Consórcio”. Depois que ela falou assim, que alguém deixava escapar a expressão “Proposta do SERTA” na plenária ou nos grupos, não faltava quem corrigisse: “Proposta do Consórcio”. Situação parecida deverá acontecer no futuro com os municípios. A Sociedade vai dizer: Esta proposta é nossa e não queremos que ela deixe.