A CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DE UMA ESCOLA RURALRelatório de duas oficinas, uma municipal 14 e 15 de agosto de 1998 e outra regional 27-29 de agosto no Município de São Benedito do Sul – PE
Relatório de duas oficinas, uma municipal e outra intermunicipal
sobre a construção de um projeto político pedagógico. Para a
construção da Educação do Campo tem um valor histórico
grande
1. A CONSTRUÇÃO DO PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO DE UMA ESCOLA RURAL
Este projeto começou com o apoio financeiro do UNICEF de novembro de 1997 até abril de 1998 e tem a continuidade assumida pela Secretaria Nacional de Assistência Social – SAS até de 30 de dezembro de 1998.
CONTEXTO E SÍNTESE DO PROCESSO DAS DUAS OFICINAS
Na Oficina Regional do mês de junho de 1998 (SISTEMATIZAÇÃO DA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO JUNTO AO PETI), foi realizada uma avaliação das oficinas anteriores. Um dos desafios encontrados pelos participantes, era ao retornar, conseguir a aplicação concreta das alternativas discutidas nas oficinas. A equipe do SERTA trabalhou em cima deste desafio, a fim de encontrar formas mais adequadas e eficazes, que ajudassem os participantes no seu retorno aos municípios.
A ideia concretizou-se nestas duas oficinas. Foram realizadas no núcleo da jornada ampliada do Engenho Mumbuca, no município de São Benedito do Sul, com a participação da comunidade escolar, incluindo crianças, alunos com mais de 15 anos que já saíram do programa, monitores, coordenadores, pais e mães. Na Oficina Regional, os educadores vieram de 16 outros municípios. O Núcleo de Mumbuca funciona na casa grande do engenho, que foi aproveitada pelo município. Nos arredores da casa Grande existem inúmeras instalações que não eram aproveitadas.
Para a realização da Oficina Regional, se fez necessário uma local de dois dias, só com as pessoas do lugar, mais alguns monitores do município e os técnicos do SERTA. Esta serviu de preparação para a segunda. Mas não foi só uma Oficina Local que preparou a Regional. Houve outros elementos. O próprio núcleo trabalhou durante 10 dias, com temáticas ainda novas, com a presença permanente de quatro técnicos estagiários do SERTA.
A primeira Oficina consistiu, sobretudo, em saber qual era a ideia que as pessoas tinham da escola. Essa preocupação se deu com as crianças, os pais, as mães e as monitoras. No segundo dia, com uma assembleia grande de familiares, monitoras (es), coordenadoras (es), crianças e adolescentes, se respondeu a pergunta: O que querem que os filhos aprendam na escola? Quando saírem desta escola, devem estar preparados para que? Depois de responder a estas perguntas, foram formados vários grupos com participação misturada, para visitar os espaços nos arredores da escola. Cada grupo visitou um espaço com uma pergunta: o que se pode aprender com este espaço? O que estes espaços tem a ver com a aprendizagem da escola e da sala de aula?
Alguns destes espaços, como a cozinha, a dispensa e a horta já funcionavam. Outros eram espaços em abandono, desde muito tempo; uma grande vacaria, com curral, cercado, pasto de pisoteio, salas para material, forrageira, balança para pesar animal, local para bezerros; um estábulo grande para cavalos, com uma parte do telhado caído. E ainda mais áreas livres para pomar, plantio, criação de peixes, hortas.
No retorno, as pessoas formaram vários grupos: um com os pais, outro com as mães, outro só com as crianças e adolescentes e o quarto só com os monitores (as). Cada grupo pôs em uma folha de papel madeira o que se poderia fazer com estes espaços e como os mesmos se articulavam com a sala de aula. Na parte da tarde, houve o planejamento de trabalho, para do dia 17 a 27 de agosto, todos estes espaços estarem recuperados com a contribuição de todas as pessoas, inclusive dos trabalhadores bolsistas do PROMATA.
Quatro técnicos do SERTA ficaram os 10 dias seguidos para trabalhar com os grupos. O plano consistia até o dia 27, por parte do município, providenciar vacas, porcos, pintos, mudas de fruteiras e tinta para pintar os espaços, a escola e as casas das famílias do engenho. As pessoas recuperariam os espaços, ampliariam acerca da horta, cercariam a área do pomar, limpariam todo o mato, aproveitariam todos os matos no composto orgânico, montariam minhocários, as mães trariam as mudas de plantas medicinais e plantariam com seus filhos.
As monitoras (es), além de participarem com as crianças de todo este mutirão, desdobrariam em sala de aula, um produto (cartaz ou coisa parecida), ligando o trabalho com os conteúdos das disciplinas. Tudo isso foi realizado com a supervisão administrativa da Secretária de Educação e Ação Social, dos coordenadores de apoio e a supervisão técnica do SERTA. Durante estes dez dias, chegaram 6 vacas e 4 bezerros, 10 leitões, 150 pintos e mais de 60 mudas de fruteiras. Todos os espaços foram limpos, pintados, pisos e telhados recuperados, cercas ampliadas, instalações elétricas e hidráulicas recuperadas.
Além destas coisas encaminhadas, as monitoras (es) prepararam a programação da Oficina Regional. Durante esta, as pessoas de fora visitaram estes espaços, onde em cada um, estavam duas monitoras e um grupo de 10 crianças e adolescentes, alguns pais ou mães. Este grupo explicava para os visitantes o que fizeram, como fizeram, porque e para que fizeram tal serviço. Num segundo momento, explicavam como tudo isto estava relacionado com a educação, com o aprendizado, com a finalidade da escola. Em ambos os momentos, respondiam perguntas dos visitantes.
2. LIGAÇÃO DA ESCOLA COM A COMUNIDADE
Para aprofundar o Projeto Político-pedagógico na oficina local, a comunidade construiu sua maquete. No chão, em cima de seis folhas de papel guache verde, os participantes iam dizendo o que existia na sua comunidade e confeccionavam com material previamente preparado pelos técnicos. Iam construindo e dizendo cada coisa para que servia. Construíram primeiro as coisas privadas, particulares, depois os espaços coletivos ou públicos, tais como: casa das pessoas, com o plantio, a criação dos animais, os jardins, os quintais, a mata, as árvores, o rio, os plantios de cana, o supermercado, o mercado, a feira, as igrejas católica e evangélica, o posto de saúde, o posto telefônico, a escola.
O debate com o educador do SERTA continuou sendo discutido qual era a função de cada espaço público, como as igrejas, o posto de saúde, e por fim a escola. O que se queria com esta metodologia era saber se a escola estava dentro, no meio presente ou separada, distante e isolada do conjunto e por que. Qual era a opinião das pessoas? Qual era a ideia que cada um tinha da escola, desde a criança menor, que ver seu irmão mais velho sair todos os dias para a escola, à avó mais antiga da comunidade? Conforme fossem os pensamentos sobre a escola, se mexia na maquete.
Havia gente que queria a escola distante, só para aprender a ler e a escrever, onde a criança entrava para se preparar, para sair da comunidade quando estivesse grande. Onde a criança não aprenderia a fazer os trabalhos dos seus familiares. Onde a vida da comunidade é uma coisa e o ensino-aprendizagem na escola é outra. Onde a sabedoria e os conhecimentos dos pais e mães, sobre a vida, o trabalho e a família, não são ensinados nas escolas. Nesta escola, os meninos e meninas aprendem a ler e a escrever e os pais só vão lá para saber se estão aprendendo isso.
Neste momento se retirava do meio da maquete a escola e se punha num lugar bem alto, simbolizando a distância e o isolamento que a mesma tinha da comunidade, a inacessibilidade da parte desta para com a comunidade e da parte da comunidade para com a escola. Perguntava-se ao grupo se as pessoas presentes queriam a escola naquele canto ou noutro e o porquê de outro lugar e não o alto. Houve bastante debate neste sentido. As pessoas pegaram a escola e trouxeram para o meio. Os educadores cercaram a escola com cartolina, isolando da comunidade e provocaram novo debate.
Havia as pessoas que queriam a escola mais próxima, mas sob os cuidados das pessoas da educação, professoras, secretaria de educação. Isso porque estas pessoas ganhavam para isso e sabiam cuidar disso. Os pais e mães sabiam de outra coisa. Por exemplo, sabiam agricultura ou cuidar dos animais, mas não sabiam ler, punham os filhos na escola para estes aprenderem a ler. Poderiam até colaborar, ajudar na escola vez por outro, quando chamados, pelas professoras, para ver se seus filhos estavam aprendendo mesmo. Mas os saberes da escola e os saberes da família eram duas coisas distintas.
Nesse momento, os educadores do SERTA entrevistaram um pai, Senhor Paulo, de 60 anos, sobre os saberes que ele aprendeu. Ele não aprendeu a ler e escrever, mas aprendeu a cuidar dos animais, vacinar, a fazer um parto numa vaca, a curar uma doença, a plantar, adubar, cortar cana, se virar na vida e educar os filhos. Dona Antônia, mãe, foi entrevistada sobre os seus saberes. Sabia ler e escrever muito pouco, mas aprendeu a cuidar dos seus filhos, a cozinhar todo e qualquer tipo de comida, a preparar uma buchada, a matar uma galinha, a lavar roupa e a se virar na vida.
O debate então girou em torno da sabedoria destas duas pessoas. Onde aprenderam estas coisas? Quem as ensinou? Quanto tempo passaram para aprender? Como se chama este tipo de conhecimento? O que tem a ver com o conhecimento que se aprende na escola? A conclusão foi que este tipo de conhecimento social, histórico, prático, familiar, que se adquire no cotidiano da vida, precisa se integrar na escola, sobretudo na escola com jornada de oito horas. Os alunos poderiam aprender dos pais e mães, e enriquecê-los com o conhecimento escolar, com a escrita, a matemática, a ciência, a arte, a cultura etc.
Dona Antônia e senhor Paulo viram-se cercados de autoestima, vendo seus conhecimentos valorizados diante das professoras e crianças. Então o técnico perguntou: como é? Assim, a cerca sai ou fica? Por quê? A conclusão foi tirar a cerca e deixar a escola perto e dentro da comunidade, mas para isso se discutiu mais ainda o papel da escola. A Oficina Regional queria durante três dias, discutir este papel, fazer o exercício de trazer a escola para dentro da vida e vice-versa. É um trabalho duro e pesado, exige muito debate e uma grande vigilância, porque ninguém foi educado com esta visão de escola.
3. O QUE NOSSOS FILHOS PRECISARIAM APRENDER NA ESCOLA, PARA QUANDO SAIR ESTIVER PREPARADOS PARA A VIDA?
Aprendizagens Necessárias |
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Aprender a ler, escrever, contar, calcular |
Aprender a falar, se comunicar, se expressar, se relacionar com as pessoas, pedir e procurar orientação |
Virar-se na vida, trabalhar, procurar emprego ou trabalho |
Saber administrar o dinheiro, a casa, o trabalho, a família |
Saber cuidar de um animal, dar alimentação correta, cuidar das vacinas, das doenças, Tirar leite numa vaca, botar a sela no cavalo ou burro |
Saber criar galinha, porco, conhecer quais são as rações certas, conhecer doenças |
Saber usar o computador nas mais diversas situações |
Aprender a cozinhar, lavar, fazer bolo, bebidas, doces, geleias |
Saber se cuidar, se alinhar, andar limpo (a), arrumado e com higiene |
Saber plantar, cuidar de um terreno, de lavoura, de horta, de fruteira |
Saber se alimentar direito |
4. ABERTURA DA OFICINA REGIONAL
Depois das boas vindas do Prefeito, um grupo de crianças e o monitor Alexandre, vestido de palhaço, contaram de forma dramatizada, para os presentes, todas as iniciativas que a escola tomou com a comunidade. Em seguida, o monitor Dido, com outro grupo de crianças, apresentou a maquete construída por eles, do núcleo e seus arredores e explicaram o porquê da integração de novos espaços na escola (vacaria, pocilga, aviário, pomar, horta familiar intensiva, horta de plantas medicinais).
5. OBJETIVOS DA OFICINA – A CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO PARA UMA ESCOLA RURAL
Após as apresentações dos dois grupos de crianças, adolescentes e monitores, as pessoas se apresentaram colocando a curiosidade que traziam para a oficina e o educador do SERTA apresentou os objetivos da mesma. Explicitou o que o SERTA pensa sobre um Projeto, sobre o conceito de Político e o conceito de Pedagógico.
PROJETO
A partir da raiz das palavras projeto, projetar, pode-se explorar as várias dimensões do seu significado. Jogar alguma coisa para a frente, para adiante, para o futuro. Lançar-se, atirar-se, arremessar-se, arrojar-se, precipitar-se. Adiantar-se ao momento presente, prever, anunciar algo que ainda está no futuro, mas que breve se tornará presente. Projetar o desejo, o desígnio, a vontade de que no futuro sejam realizados. Antecipar: começar a realizar no presente o que está programado para o futuro, iluminar o presente, com o futuro que está projetado. Abrir caminhos, veredas, estradas, trilhos na direção de algum percurso. Todas estas palavras supõem a construção, a edificação de algo ou a planta da construção. Representam um olhar sobre o futuro, mas um futuro que começa aqui e agora, como a estrada de mil léguas que começa com o primeiro passo, e a construção de um edifício que supõe as primeiras pedras ou colunas.
Este futuro diz respeito ao tempo: Como queremos nossa escola no próximo semestre, no próximo ano? Daqui a 2, 4, 6, 8, 10 anos? Como queremos nossa escola para quando os alunos (as) que estudam agora estiverem pais e mães de família, profissionais e cidadãos adultos? Quanto nossa escola gasta, vai gastar? Que recursos tem hoje e terá amanhã?
POLÍTICO
O projeto de uma escola supõe o projeto de uma comunidade: como esta se pretende no próximo inverno, no próximo verão? Como esta pretende estar daqui a 2 anos, a 4, 6, 8, 10 anos? Que tipos de homens e mulheres, esta pretende ter nos seus quadros? Os seus espaços, como a comunidade pretende organizar? O uso das terras? Como a comunidade pretende ver o seu rio nos próximos anos (atualmente é sujo, sem peixe, sem proteção nas suas margens)? As terras hoje estão pouco usadas, até que ano vai continuar assim? Os vales, os montes, a vegetação, como a comunidade pretende ver estas coisas nos próximos anos? Como a comunidade pretende estar organizada, governada?
A comunidade supõe um município: para que tipo de pessoa, de sociedade, de município a escola e a comunidade devem preparar seus filhos e seus alunos (as)? Se o município não se pensa, não se autodetermina, não se projeta, a escola vai projetar o que? Em que direção? O projeto político de uma escola e de uma comunidade supõe estar dentro de uma sociedade local. O tipo de pessoa e de sociedade tem sido uma discussão muito comum, mas tem deixado esta sociedade muito abstrata, muito longe da realidade. Entendemos que esta sociedade mais próxima é o município. E este precisa também ter o seu projeto político. Para dentro do seu projeto, se pensar o da escola e da comunidade.
Isso não quer dizer, que a escola tem que esperar pelo município para começar a pensar o seu projeto. Se for assim, pouquíssimas vão poder pensar. Mas que ela comece se pensando e se achando dentro de um município que precisa construir um projeto. Que ela comece então, pensando a sua comunidade, fazendo o diagnóstico da sua comunidade, conhecendo a realidade, os recursos do seu município e que provoque a comunidade e o município a se pensarem e a construírem um projeto político.
O PEDAGÓGICO
Se a comunidade começa a pensar um estágio otimizado de sua existência, pensar melhor o uso de seus recursos humanos, materiais, naturais. Se o município se descobre no estágio atual, e começa a pensar no seu estágio otimizado, na melhor uso de suas terras, de seus recursos, das águas, dos rios, das florestas, da produção, da organização, do seu desenvolvimento, aí então, a escola se esforçará para descobrir como chegar ao estágio otimizado, como preparar seus alunos e alunas, para se tornarem cidadãos e cidadãs deste município. Saberá procurar diretrizes, orientações, técnicas e dinâmicas, para a formação dos seus estudantes. Saberá escolher os currículos, as habilidades, os conhecimentos e os instrumentos necessários para os jovens crescerem nesta direção. A escola saberá então ser pedagógica, saberá para onde ir, em que direção seguir, que tipo de cidadão, de pessoa, de sociedade construir.
O pedagógico será o responsável para fazer a escola, a comunidade, o município saírem do estágio atual, para um estágio otimizado. Escolher o tipo de cidadania, o tipo de sociedade, pertence ao político. A condução para construir este tipo de cidadania e de sociedade pertence ao pedagógico.
8. AULA PRÁTICA NA POCILGA SOBRE A SUINOCULTURA
Normalmente quando se fala em porco, imagina-se logo um animal sujo, criado na lama, que come de tudo. Chegamos até a denominar algumas pessoas que não tem um hábito higiênico apurado de “UMA PESSOA PORCA”. E foi a partir desta constatação que trabalhamos na aula prática com as crianças, mostrando para elas que o porco, não é sinônimo de sujeira. Mostrou-se de forma prática como deve ser a higiene de uma pocilga (chiqueiro). Que deve ser lavada duas vezes por dia, os cochos devem ser bem limpos, sem deixar restos de comida que podem contribuir para fermentação de qualquer outra comida que se coloque para os animais. Esta mesma prática foi feita durante a oficina regional, mostrando para os participantes o que eles estão aprendendo com a criação dos porcos.
Na oficina, a monitora trabalhou o português, na elaboração de texto com o seguinte título “Criar porcos não é sinônimo de sujeira”. No texto coletivo a monitora trabalhou: A acentuação gráfica; Erros de escrita; Separação de sílabas.
8.1 TEXTO PRODUZIDO
Criar porcos não é sinônimo de sujeira, porque os porcos têm de ser tratados com muito cuidado. Porque eles vão servir de alimentação para nós. Pois eles precisam ter uma boa saúde. Para eles ter boa saúde, tem que dar banho todos os dias e também tem de pintar as paredes, para eles não pegarem germes nem bactérias.
Como demonstrativo também foi realizado, aplicações de vermífugos injetáveis. Cada criança aplicou a injeção em um dos porcos, e o técnico do SERTA fez a castração cirúrgica de um, onde as próprias crianças participaram de forma ativa, segurando o leitão. Foi incrível a participação de todas as crianças, inclusive dos participantes que queriam ver como se faziam estas práticas. Vale salientar que antes da realização da castração, foi explicado para todos qual é a importância e a necessidade desta técnica, numa criação comercial de suínos. Percebe-se que a curiosidade chama a atenção de todos, porém é mais evidente nas crianças.
Todas as criações implantadas no núcleo de MUMBUCA, além de serem espaços pedagógicos, visa criar habilidades profissionais, dentro de uma concepção orgânica, onde cada um por si só não se justifica, todos dependem de todos, os restos de um são aproveitados pelos outros. Queremos com isso dar uma ideia de meio ambiente plural, diversificado, onde como já dizia Lavoisier “Na natureza nada se cria, nada se perde tudo se transforma”
8.2. AULA PRÁTICA SOBRE O COMPOSTO ORGÂNICO
Um dos grandes problemas da agricultura de hoje é a pobreza dos solos, causada por vários motivos, como por exemplo: queimadas, erosão, monocultura, manejo inadequado dos solos etc. Por ser um problema técnico que causa problemas até de nível social, é um grande motivo para ser discutido na escola. E uma das formas que pode solucionar este problema é a fabricação de adubos orgânicos, onde são aproveitados todos os restos de culturas, retraços de cocheiras, lixos. E dentre as formas de preparação de adubos está o composto orgânico, técnica milenar, onde se amontoa de forma ordenada todos os materiais acima descritos, e através de reviramentos constantes, num período de 60 a 90 dias este material estará completamente decomposto, servindo para a adubação de qualquer cultura agrícola.
Durante a oficina as crianças apresentaram para os participantes como se faz na prática um composto, feito de forma dinâmica com a participação da maioria dos convidados para a oficina. As crianças conseguiram dentro de um período tão curto de tempo aprender esta técnica, e além do mais, assumiram a tarefa de repassar em forma de aula, os conhecimentos adquiridos. No final da aula dada pelas crianças, deixaram um composto pronto com um tamanho de 2,5 metros por 2,5, com uma altura de 1,0 metro. Foram utilizados materiais da capina da própria área, mato verde, mato seco, esterco, lixo da cozinha, cal, cinza e água. Com isso conseguimos mostrar para todos, que a reciclagem, é um processo que deve ser levado em conta em uma concepção orgânica e ecológica da vida.
Outra aula/técnica apresentada pelas crianças e monitor, foi a criação de minhocas, conhecida também como vermicompostagem. Nesta aula as crianças no primeiro momento, apresentaram um texto produzido pelas mesmas após uma pesquisa em livros, que tratam do assunto. Mostrando para todos a importância da minhoca no processo de afofamento do solo, facilitando a entrada de água e ar. Como também alguns tipos de minhocas que tem como especialidade a fabricação de Húmus, (resultado final do seu trabalho de decomposição). Novamente a curiosidade dos participantes foi ativada, surgindo diversas perguntas, onde muitas foram respondidas pelas crianças, outras pelo monitor, e as mais complexas pelo técnico educador do SERTA.
A integração do monitor nesta aula foi tão bem-sucedida, que muitos dos participantes imaginaram que este monitor era um técnico em agropecuária. Causou espanto em todos pelo conhecimento adquirido pelo monitor sobre este assunto, e conseguindo de forma muito peculiar transformar este conhecimento em assunto de sala de aula, trabalhando as mais diversas disciplinas. E este estava há poucos dias na função, ainda como estagiário.
Como em todas as narrações anteriores, foi frisado como principal objetivo, o pedagógico, pois uma técnica por si só, não se justifica sem ter um contexto social, político, ambiental e educacional. Para as crianças alcançarem este nível de entendimento, sabemos que é muito cedo, mas era de fundamental importância que os visitantes dos demais municípios compreendessem este contexto.
8.3. AULA PRÁTICA NO GALINHEIRO SOBRE A AVICULTURA
Como já foi narrado, a decisão de criar frango de corte, aconteceu em uma reunião onde pais, mães, alunos e monitores, depois de muito debate, observaram que todos os frangos comercializados em Igarapeba, distrito vizinho ao engenho, vem de São Bento do Una, município distante no Agreste. Outro fator bastante forte é que no cardápio do núcleo se consome frangos, necessitando desta forma comprar. E outra grande necessidade era aprender a criar frangos de corte, quer dizer, criar habilidades não só nas crianças, mas também nos pais que estiverem dispostos a aprender e a ajudar no processo de desenvolvimento da criação.
A importância da criação de aves não para só por aí, ela estimula vários processos, é como um efeito dominó, um processo que estimula outro. As crianças a partir da ave podem aprender: A criar, a abater (agregando valor), a cozinhar, a estudar os órgãos internos, A comercializar, a defumar, a planejar, a controlar, a distribuir equitativamente, A integrar, a se virar na vida, a gerar renda, a aprender fazendo.
A aula prática começou de na entrada do galinheiro. Os participantes estavam sendo esperados pelos alunos, que logo de início pediram para que todos os participantes pisassem em um caixote com cal virgem, explicando-os, que a função daquele mineral era para criar uma barreira contra possíveis micróbios trazidos nos sapatos dos mesmos. Explicando ainda que os pintinhos ainda são muito indefesos, necessitando de todo cuidado. Surgiram várias perguntas para as crianças responderem. Foi observado um desempenho espetacular das crianças, como aprenderam rápido, o que lhes fora ensinado. As crianças puderam ensinar como se faz uma vacina ocular contra a doença de Newcastle (conhecida como nordeste). Explicaram a função do círculo de proteção, dos bebedouros, dos comedouros do aquecimento feito com lâmpadas infravermelhas, etc.
8.4. AULA PRÁTICA SOBRE A DISPENSA NA ESCOLA RURAL
Em várias oficinas sobre a merenda escolar, um dos aspectos discutidos foi a possibilidade das crianças organizarem o controle de estoque da merenda da escola. Além de educar para a responsabilidade, é uma forma de se habilitar para exercícios de prestação de contas, anotação de entrada e saída, saldo etc. A monitora trabalhou com uma equipe o consumo de uma semana na escola. Permitiu uma visão diária e semanal do consumo. Na oficina regional mostraram como poderia se desdobrar em sala de aula. Apresentaram um texto sobre os alimentos de crescimento, proteção e reforço. E a ficha da semana. Cada professora ou monitora, com a ficha em mãos, pode explorar matemática, geografia, ciência, saúde. O ideal será chegar aos cálculos feitos em sala de aula, sobre o quanto custa o consumo diário, semanal, mensal da escola, em termos de alimentos, produtos de limpeza e discutir daí, o que poderia ser produzido pela escola ou família.
Tudo isso exigirá da escola e do município uma discussão com os produtores, em vista da possibilidade de produzir, de planejar, de comercializar, de agregar valores, de investir na comunidade e no município, e assim, multiplicar os recursos destinados ao programa da Bolsa Escola, numa perspectiva de desenvolver melhor o município e de não jogar este dinheiro nas outras regiões.