PRIMEIRA FEIRA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DO CAMPO – SURUBIM
Texto também histórico, pois mostra um resultado da
Proposta Pedagógica já em 1995. Já não foram só as 30
professoras que iniciaram o trabalho de Educação do
Campo, mas todas as professoras do município.
A Feira Municipal de Educação do Campo de Surubim-PE foi realizada em três localidades diferentes, CHÉUS, CASINHAS E A SEDE DO MUNICÍPIO. Em cada lugar destes, um dia, 15, 16, 17 de novembro deste ano. O Objetivo deste evento era mostrar para a população os conhecimentos produzidos pelos alunos e professoras com as pesquisas que fizeram sobre a realidade do meio rural do município.
Por trás deste objetivo havia outro, que era divulgar a PROPOSTA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO, que vem sendo aplicada no município. Por que a necessidade de mostrar para a sociedade? Por várias razões, entre elas, porque a Proposta não diz respeito só ao que se passa na escola, ao que se passa entre os alunos e as professoras. Diz respeito ao que se vive na comunidade, nas famílias, no município e na sociedade em geral. Também porque a Proposta não é só uma proposta metodológica de melhora do ensino, ela implica uma filosofia da educação, nela está contida uma visão da agricultura, do desenvolvimento, do meio ambiente, da educação, das técnicas pedagógicas, das Políticas Públicas.
E tinha um terceiro objetivo, que era contribuir para que a partir de 96, ano eleitoral, esta experiência não se reduzisse ao um período de mandato eleitoral. Explicando: muitas experiências bem-sucedidas em nosso país com os municípios ficam reduzidas ao mandato de um prefeito. Podem ter os melhores resultados, mas se chega outro, muda só por mudar. E muitas vezes as experiências nem tem tempo suficiente para amadurecer num período de tempo de um mandato.
A ideia de fazer a feira (originalmente, era fazer um Seminário Municipal), trazia no seu bojo esta preocupação. Quaisquer que forem os candidatos a prefeito, quaisquer que forem os partidos e as coligações, as pessoas envolvidas gostariam que a Proposta de Educação tivesse continuidade nos próximos anos, em todos os três municípios de Pernambuco e nos três da Bahia que iniciaram. Para isso seria interessante que os eleitores e os partidos políticos conhecessem a Proposta.
Esta está sendo aplicada em municípios com governos de partidos diferentes, partidos de situação e oposição em relação aos governos estadual e federal. Com a população maior tomando conhecimento da Proposta, da capacidade, intencionalidade, resultados da mesma, ficará mais fácil batalhar para que ela continue e que não seja explorada partidariamente. Em outras palavras que “não se faça política com ela” no sentido que convencional e popularmente, se diz.
2.1. AS ETAPAS DE PREPARAÇÃO DA FEIRA
A ideia da feira centralizou-se muito em cima das experiências de PRODUÇÃO DE CONHECIMENTOS SOBRE A REALIDADE. Cada escola escolheu um tema, ou da realidade produtiva, ou da realidade cultural, ou da realidade ambiental e etc. Uma vez o tema escolhido, as professoras com seus alunos foram pesquisar o tema escolhido com a população do lugar. O conhecimento produzido pelos alunos, pelas famílias visitadas seriam de uma forma ou de outra, documentado, de diversas formas, em um produto final, que seria exposto na feira.
O resultado foi uma “Feira de Caruaru”, de tudo tinha! A diversidade e a criatividade dominaram o ambiente. Mesmo as escolas que escolheram temas iguais, apresentaram, de formas diferentes. Vale desde já situar alguns temas: o leite e seus derivados, o milho, o feijão, o coco, a mandioca, a batata, o algodão, o cará São Tomé, o jerimum, as fruteiras, as hortaliças, o coco catolé, as plantas nativas do agreste, a costura tradicional, a costura atual, o artesanato, uma fábrica de bolo da localidade, uma pedreira, a adubação orgânica com minhocas, o rio Cai-aí, o solo, as pragas do plantio e a cadeia alimentar, as plantas medicinais, um casarão do século XVII, a história do povoado…
Todas essas coisas foram mostradas. Com isso, as escolas rurais se Surubim produziram um conhecimento amplo de sua realidade rural. Apresentaram fotos das visitas às propriedades, da coleta de material e de outras coisas. Desenhos e pinturas as mais diversas, apostilhas, receitas de bolo, de remédios com as plantas, tabelas de custos, e tudo que era produto comível estava lá para vender ou distribuir: produtos do leite, da mandioca, do cará (com sete receitas de cada prato), do jerimum, das frutas: doces, geleias, bebidas, saladas, cuscuz, farinhas. As pragas e seus predadores, muitas delas vivas, dentro de vidros bem acondicionados para entrar ar.
A partir do próximo ano, tudo isso vai voltar às escolas para ser mais desdobrado, sistematizado, transformado e retransformado em textos, cálculos matemáticos, debates, leituras, interpretação, poesia, teatro, ciências e estudos sociais.
Tudo isso representou muitas coisas. Cada elemento exposto representava algo que nascia na cabeça das pessoas. Professora que era costureira, não imaginava antes que a sua profissão pudesse se transformar em objeto de aprendizagem para seus alunos. Professoras e mães que tinham gado e transformavam os produtos de leite, não imaginavam que poderiam dar aula no cercado e na cozinha. Produtores jamais se imaginaram professores, ensinando aos alunos e as professoras, como se plantava o cará, como se fazia a farinha, como se produzia o bolo, como se trabalhava o algodão e assim por diante. Alunos que trabalhavam quebrando pedra com seus familiares jamais imaginavam que no seu trabalho de quebrar pedras estava contido os ensinamentos de matemática e geometria.
Toda a vida, suas manifestações, o trabalho, o lazer, a alimentação, a arte, enfim, tudo que faz parte da cultura e da vida, torna-se objeto de conhecimento. Crianças e adolescentes aprendem a aprender, a estudar, a produzir e não só consumir conhecimentos. A feira mostrou que agricultores, produtores, artistas, mães de famílias, podem produzir conhecimentos, que material pedagógico, a comunidade dispões de muito, a baixo custo, ou a custo zero. A feira mostrou que a aventura de aprender é sempre uma troca, uma produção de conhecimentos, e que todas as pessoas podem ser sujeitas, atoras, e autoras da sua aprendizagem.
2.3. UMA NOTÍCIA CONSOLADORA
Francisca, companheira do Movimento de Organização Comunitária (MOC) de Feira de Santana, Bahia informou hoje (22 de novembro), por telefone, que a Proposta de Educação do Campo, apresentada pelo MOC, concorreu a uma seleção entre 406 experiências de educação no Brasil, ligadas a organizações não governamentais e foi escolhida em terceiro lugar. Na Bahia, a Proposta é aplicada nos municípios de Valente, Santa Luz, e Santo Estevão, com a assessoria do MOC e do Centro de Educação da Universidade Estadual de Feira de Santana. Logo mais receberemos notícias mais detalhadas.
2.4. NOVOS DESAFIOS
A feira começa depois que termina. Caminhos novos se apresentaram, e o que é maravilhoso, é que agora, vem dos alunos, vem das professoras, vem das comunidades. É troca, intercâmbio. Antes, foi muito o SERTA, as supervisoras que levaram muitas propostas, sugestões. Agora o caminho está de mão dupla. Vai e vem. Uma produção vai dando origem a outra. No dia primeiro de dezembro, tudo isso vai ser avaliado, e o próximo ano programado.
PARABÉNS SURUBIM!…