A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA E SUAS DESCOBERTAS
Texto escrito para refletir com as professoras a minha experiência de vida
pessoal, na busca de alternativas para tratar meu filho caçula que nasceu com
paralisia cerebral.
Uma vez, no estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos da América, na década de 1950, existia uma clínica de fisioterapia muito famosa, que recebia pessoas do mundo inteiro para tratamento. O médico que liderava chamava-se Glenn Doman. A clínica recebia pessoas portadoras de deficiências, com cérebro lesado por ocasião do parto ou por acidentes e doenças. Possuía especialistas de todos os tipos, pesquisadores, professores universitários. E seus equipamentos eram os mais modernos e sofisticados da época.
Apesar de todos esses recursos, os profissionais questionavam-se diante dos poucos resultados que alcançavam junto aos que se tratavam. Depois de muitas dúvidas resolveram investigar a fundo se os resultados poderiam ser outros. Para pesquisar, resolveram comparar a situação dos que frequentavam a clínica com a das pessoas que passaram um tempo por lá, mas que por diversas razões abandonaram o tratamento.
Tiveram um grande susto e grande surpresa. Todos os que haviam abandonado a clínica estavam melhores do que os que se tratavam. A hipótese é que iriam comprovar o contrário, todos os da clínica estariam melhores!
A grande dor de cabeça era explicar esse fenômeno! Como era possível que deficientes, sem assistência médica, muitas vezes, sem assistência das famílias, que tinham que trabalhar, estudar estivessem avançando mais na recuperação de sua saúde, do que quem tinha todo tipo de assistência, de especialista, de equipamentos, de exames.
Passaram anos pesquisando para explicar esse contraste. Sabe qual foi a explicação que encontraram? Foi que quem vivia em casa, vivia em contato mais direto com o chão, com o piso das casas, do terreiro, dos quintais, dos jardins. Descobriram que é em contato com o chão, que as pessoas amadurecem o sistema nervoso central, o cérebro.
É a força que a criança faz para rolar no berço, arrastar-se na casa, engatinhar pela casa e andar que vai proporcionando o amadurecimento do cérebro, dos nervos, dos músculos e dos ossos. A resistência que o chão proporciona é quem vai construindo a segurança do corpo da criança, que vai lhe dando a confiança e fazendo com que a criança sinta cada vez mais a força do seu corpo. A resistência do chão faz com que as células e os neurônios do cérebro se exercitem e criem novas funções e novas estruturas.
A partir dessa descoberta, a clínica refez todos os seus métodos de tratamento, porque refez suas bases científicas e filosóficas. Acreditou na importância do chão, no papel que o chão tem para o desenvolvimento. Investiu para que as pessoas em tratamento passassem a conviver no chão. Desenvolveu toda uma metodologia com exercícios de contato com o chão. Os resultados passaram a ser surpreendentes e revolucionaram a fisioterapia no mundo todo.
É comum uma ciência aproveitar a descoberta da outra. As primeiras pessoas que construíram a Peads aproveitaram essa ideia da fisioterapia e aplicaram ao ensino e aprendizagem. Deu ao chão um sentido mais amplo e simbólico. Ampliaram aos grupos humanos, comunidades e territórios. Para um território se desenvolver precisará conhecer e conviver com o seu chão, suas raízes, suas bases físicas, ambientais, sociais. Essa história mostra que antes de qualquer coisa as pessoas precisam estar vinculadas, assentadas sob suas raízes, sobre sua terra, sobre seus recursos próprios. Muita gente deixa de valorizar seus recursos e possibilidades disponíveis para ir atrás de recursos sofisticados, de fora, caros. Vamos primeiro perguntar qual é o nosso chão? O que podemos fazer com ele, nele e com as pessoas do lugar? Tudo que vier depois será consequência, dessa primeira escolha.