Desenvolver, na escola, estratégias para o Desenvolvimento Local Sustentável.
Construção do Censo Populacional do Município.
Apresentação
Esta ficha faz parte de um conjunto para produção de conhecimento sobre o diagnóstico de uma comunidade, desenvolvido com o apoio da escola local. Seu objetivo é ajudar a comunidade a se conhecer melhor, no que diz respeito aos dados demográficos (da população). Saber quantas pessoas residem na comunidade, sua faixa etária, seu estado civil, seu índice de analfabetismo, suas profissões, sua renda e seus dados próximos desses.
Todas as Fichas Pedagógicas da Proposta de Educação Rural dividem-se em quatro etapas fundamentais. A primeira é uma pesquisa a ser feita com familiares em casa, com vizinhos, com parentes, no trabalho, na roça, nas matas e nos rios, etc.
A segunda parte é a tomada do dever de casa — a pesquisa, quando o professor retoma os dados levantados pela pesquisa dos alunos e vai aprofundá-los, ensinando os conteúdos das disciplinas já conhecidas: Português, Matemática, Estudos Sociais, Ciências, Arte, Religião, etc.
A terceira parte é quando a classe, depois de ter aprofundado os resultados de sua pesquisa, vai encaminhar novas ações na própria classe, na escola ou fora dela.
A quarta parte é a avaliação do processo vivenciado, para dar entrada em nova ficha. Ao longo das etapas, a classe vai construir alguns produtos para registrar o conhecimento produzido. Esses produtos variam muito de forma. Pode ser um cartaz com as respostas dos alunos, pode ser um gráfico, uma planilha, uma tabela, um texto, uma poesia, uma música, um teatro, uma pintura, um desenho, uma filmagem. Algo que deixe registrado o processo e o resultado do trabalho da classe ou da escola.
Esse produto pode ser de uma forma ainda muito primária, por exemplo, as respostas dos alunos. Vamos supor que os alunos tragam o nome das pessoas de sua casa numa pesquisa. É comum trazerem os apelidos ou nomes incompletos. A relação desses nomes é um produto inicial. O professor dá outras oportunidades para o aluno trazer resultados mais completo. A classe forma uma relação mais completa com os nomes, as idades, as profissões. Tem muitos dados, mas ainda falta a idade correta ou qualquer outra informação de alguns. A classe tem um produto intermediário.
Mas se a classe vai fazer uma reunião com a comunidade ou uma exposição na escola e pretende ter um produto bem-feito, bem compreensível e legível, bonito e que chame a atenção dos pais, ou se a escola pretende reunir os dados de várias classes, então vai surgir um produto final, mais bem-acabado. Se esse produto for servir para uma apresentação no município ou se for para a publicação de um livro, ele poderá ter formas sempre mais acabadas, e assim sucessivamente.
Esta ficha exige uma discussão dos professores da mesma escola ou mesmo um estudo com a supervisão ou o apoio pedagógico, por conta de tantos elementos inovadores que contém. O entendimento nunca é completo no início. À medida que a escola for utilizando-a, o entendimento vai aumentando, e os professores terão oportunidades de trocar idéias entre si.
Parte 1
Questões para a realização das pesquisas
Ver, conhecer, observar, aproximar-se da realidade e produzir um conhecimento inicial e elementar com os dados produzidos pelos alunos e familiares. Envolver os pais e as mães na produção do conhecimento que vai ser construído com a escola. Resgatar o conhecimento que estes já possuem, para interagir com o conhecimento da escola.
Não se espante com tantas perguntas! Não é tudo para um dia nem para a primeira semana. O professor tem um mês, mais ou menos, para trabalhar essas perguntas, dependendo do nível dos seus alunos, da classe, do maior envolvimento da escola e da comunidade. Pode ser uma pergunta ou duas por dia. Cada professor verá como fazer. Poderá reformular as perguntas, para deixá-las mais compreensíveis. Os dados dessas perguntas devem constar no diagnóstico da comunidade.
É importante fazer uma reunião na comunidade antes de desenvolver esta proposta. Pode haver reação de algumas famílias, por conta da intimidade de algumas perguntas. Mas se as famílias souberem por que a escola está fazendo assim, vai ficar mais fácil de entender.
1. Quantas pessoas moram em sua casa?
2. Qual o nome completo do seu pai e da sua mãe?
3. Além do seu pai ou da sua mãe, há outras pessoas que têm filhos e moram na mesma casa? Quais os nomes delas?
4. Quais os nomes completos de seus irmãos e suas idades?
5. Quantos dos seus irmãos já têm outra família?
6. Quantos moram em casa? Quantos são homens ou mulheres? Qual a idade deles?
7. Quantos irmãos moram fora de casa? Quantos são homens ou mulheres? Qual a idade deles?
8. Quantos irmãos moram fora da comunidade?
9. Quantos irmãos moram no Recife?
10. Quantos irmãos moram fora do Estado de Pernambuco?
11. Na sua família, quantas pessoas frequentaram a escola?
12. Quantas pessoas da sua família sabem ler? Qual a idade delas?
13. Quantas pessoas da sua família não sabem ler e qual é a idade delas?
14. Quem ainda estuda, que série está fazendo e que idade tem?
15. Na sua casa tem alguém aposentado? Quantas pessoas?
16. Em que trabalho sua família ganha mais dinheiro?
– No trabalho assalariado fichado, isto é com carteira assinada?
– Trabalhando avulso, ganhando por dia, fazendo “empreita”?
– Na agricultura da própria família?
– Como aposentado?
– Trabalhando fora da comunidade ou do município?
– Comprando e vendendo alguma coisa?
– Tendo um ponto de comércio?
17. De que outra forma se ganha dinheiro na sua família?
18. Quantas pessoas em sua família são casadas na Igreja e no civil?
19. Quantas têm família, sem serem casadas na Igreja e no civil?
20. Quantas pessoas são casadas e quantas são solteiras?
21. Tem alguém em sua casa que é viúvo? Recebe alguma pensão?
Parte 2
O desdobramento e aprofundamento das pesquisas
Partir do conhecimento que as crianças produziram com seus familiares, a escola procura desdobrá-lo e aprofundá-lo, através das disciplinas, para que esse conhecimento inicial, elementar, possa evoluir e alcançar um patamar maior, mais escolar, técnico e científico. Desenvolver sempre de forma interdisciplinar e transversal o primeiro conhecimento produzido.
1. Tomar o dever de casa — a pesquisa — juntar os dados das respostas, computar e realizar cálculos.
– As técnicas são diversas. O professor pode fazer grupo de duas a cinco pessoas para juntarem as respostas.
– Em classes multiseriadas, pedir aos mais adiantados que formem grupo com os menos adiantados para anotar as respostas.
– Se a classe for pequena, o professor poderá pegar todas as respostas do grupo, contanto que seja sempre de uma forma socializada, não individual.
– Faltando a resposta de algum aluno, informar-se da razão por que não fez a pesquisa e propor para trazer no outro dia.
– Às vezes, o motivo vai proporcionar um debate na classe.
2. Desenvolver operações de adição.
– Totalizar os números com as contribuições dos grupos.
– Juntar os aposentados da relação do grupo A com a relação do grupo B. Depois com os da relação do Grupo C… Quantos são os aposentados? …e assim sucessivamente, com o número de pessoas que moram fora, os da mesma faixa etária, do mesmo estado civil, dos que sabem ler e os que não sabem.
– Dependendo do nível dos alunos, o professor pode fazer os cálculos mais simples ou mais complexos.
3. Desenvolver operações de subtração.
– Dos totais por família ou do total geral, subtrair grupos específicos:
– Na casa de fulano, são 7 pessoas, 3 sabem ler, quantos são os que não sabem ler?
– Os dois grupos somaram 36 pessoas; dessas, 15 moram fora, quantas pessoas estão residindo na comunidade?
– Nas famílias de fulano, beltrano e sicrano há tantas pessoas, só tantas têm renda fixa ou emprego certo, quantos ficam sem ter ganho certo?
4. Desenvolver operações de multiplicação.
– Multiplicar os totais por outros números. Na nossa turma, tem 23 analfabetos, em duas turmas, quantos analfabetos seriam? E se multiplicarmos pela quantidade de turmas da nossa escola, quantos analfabetos seriam?
– Fazer assim, com qualquer outro dado revelado nas pesquisas.
5. Desenvolver operações de divisão para tirar a média.
– Dividir o número total de pais e mães analfabetos pelo número de famílias, para saber quantas pessoas analfabetas há por família.
– A mesma coisa com os aposentados, as pessoas que estudam, as que trabalham fora e outros.
6. Desenvolver operações de fração e percentagem.
– Verificar o número de mulheres com mais de 55 anos que não são aposentadas. No total, as não aposentadas correspondem a que percentual? E as aposentadas?
– No total de jovens entre 15 e 20 anos, que percentual estuda? E que não estuda?
– Na família de fulano, são 10 pessoas, 5 já estão casadas; como se exprime esta fração?
7. Organizar mapas, planilhas, gráficos e tabelas com os números das pesquisas sobre a comunidade.
– Os números e as realidades são infinitas, os exemplos podem se multiplicar, se diversificar de acordo com o interesse do professor, do nível do aluno, da situação da escola.
– As quatro operações podem estar no mesmo cálculo.
– Alguns dados mínimos devem constar no produto final para o diagnóstico do município.
– Se as comunidades forem pequenas, seria bom constar o próprio nome das pessoas.
– Em papel almaço, as próprias crianças podem construir quadros como este, com apoio do professor.
Quadro Sinóptico de Cada Família
Nome | Grau de parentesco | Idade | Escolaridade |
---|---|---|---|
1. | |||
2. | |||
3. |
8. Fazer um gráfico com a renda da população.
– Aposentadoria.
– Emprego fixo.
– Trabalho avulso.
– Agricultura própria.
– Comércio.
– Parentes que mandam dinheiro de fora.
– Outros.
9. Trabalhar os nomes próprios e os nomes das famílias.
– Aprender a escrever corretamente o nome das famílias.
– Conhecer as origens e os significados dos nomes.
– Desenvolver a identidade das pessoas a partir dos nomes.
– Trabalhar com acentuação, sílabas, grupos vocálicos e consonantais usando os nomes.
10. Organizar debates sobre questões levantadas pelas pesquisas.
– Percentual grande de pessoas analfabetas, de pessoas sem estudar, de pessoas sem renda fixa, de pessoas sem trabalho.
– Migração rural para a cidade.
11. Localizar geograficamente a comunidade.
– Onde a comunidade se localiza em relação à sede do distrito e do município (quilometragem).
– Onde ficam o norte, o sul, o leste e o oeste.
– Quais as localidades limites da comunidade.
– Como se orientar em relação aos pontos cardeais.
– Conhecer as estradas, os caminhos que levam à comunidade, o percurso que os alunos fazem para estudar; e os familiares, para trabalhar.
– Fazer cálculos das distâncias.
Parte 3
Os encaminhamentos das ações
Realizar ações concretas com o novo conhecimento produzido pela escola. Fazer com que a comunidade e a escola encontrem meios de pôr em prática ações concretas para melhorar a realidade. Fazer com que o conhecimento passe mais forte pelos sentidos, pelas emoções e pelo intelecto das pessoas que contribuíram com a sua construção.
1. Organizar um mapa ou uma planta baixa ou maquete da comunidade.
– Fazer, após vários ensaios com croqui, a planta e o mapa da comunidade, identificando as residências, os prédios públicos, as roças, as estradas, os recursos, etc.
– Pintar esse mapa em uma parede da escola ou em papel resistente.
– Construir em algum local uma maquete que possa permanecer por mais tempo.
2. Organizar um ou mais produtos finais para discutir com a comunidade.
– Juntar o quadro sinóptico da população com os das demais turmas.
– Preparar com os alunos a reunião com a comunidade, acertando tarefas: convidar a diretoria da associação para um debate em classe sobre a idéia da reunião.
– Organizar a escrita e a distribuição dos convites com os alunos.
– Organizar o local, a temática, a agenda, o horário, as cadeiras com o apoio dos pais.
– Organizar as equipes e pessoas que vão falar sobre o processo dos estudos desta Ficha e o seu resultado.
– Combinar a participação da comunidade nos debates.
– Escolher uma ou duas questões das que mais sensibilizaram a escola e a comunidade.
– Depois, avaliar os processos de preparação e realização da reunião.
– Produzir um texto escrito coletivo sobre a avaliação da reunião.
3. Completar o censo da comunidade com os dados das famílias que não têm filhos na escola.
– Se a pesquisa foi feita só com as famílias dos alunos da escola, algumas casas ficaram fora.
– Para a complementação dos dados do censo, é preciso organizar as equipes e preparar a participação dos alunos.
– Com a experiência adquirida, os alunos retomarão os cálculos e farão um produto mais acabado da comunidade.
– Com a experiência adquirida, fazer o censo escolar.
– Saber quantos são os alunos, a faixa etária, o sexo, as repetições, o atraso pela faixa etária, o número de professores, os funcionários, etc.
Parte 4
A avaliação do processo de construção do conhecimento, do ensino e da aprendizagem.
Depois de um processo desse, segue-se uma avaliação dos conteúdos aprendidos, da participação dos sujeitos envolvidos e da dinâmica utilizada para iniciar um novo processo. A nossa cultura associou um instrumento — prova, ao fim — à aprendizagem. Para essa avaliação, a escola pode usar inúmeros meios, instrumentos.
1. Os conteúdos ensinados e aprendidos.
– Nesta metodologia, todos ensinam, todos aprendem e todos são avaliados, por si e pelos demais.
– Fazer com os alunos o levantamento de todos os conteúdos trabalhados nesta ficha, tantos os tradicionais como os novos.
– Discutir o nível de interesse, de utilidade e de assimilação desses conteúdos, para os estudantes e os seus familiares.
– Discutir com os alunos as formas de observação que eles podem fazer sobre a aprendizagem dos familiares.
– Os professores devem fazer o mesmo em relação ao seu próprio aprendizado; e os supervisores, em relação ao aprendizado das escolas.
– Fazer algo nesse sentido com as famílias que participaram do processo.
2. A participação dos envolvidos.
– Verificar os níveis de motivação, interesse, iniciativa, contribuição e criatividade dos alunos.
– Verificar os valores que foram se desenvolvendo e se firmando nos alunos: solidariedade, companheirismo, respeito ao outro, justiça, responsabilidade com as tarefas e os horários.
– Verificar as atitudes em relação aos valores na vida pessoal, de grupo, coletivamente, dentro e fora da escola.
– Verificar junto aos professores e familiares esses mesmos itens.
3. As metodologias e dinâmicas utilizadas.
– Verificar as falhas e os acertos percebidos pelos alunos, professores e familiares.
– Examinar as dificuldades sentidas pelos envolvidos.
– Discutir as sugestões e formas de superação para melhorar a ficha.
– Verificar a eficiência e eficácia da ficha, se conseguiu facilitar os objetivos e as estratégias do ensino-aprendizagem.
– Planejar o próximo período e a próxima ficha.
Abdalaziz de Moura