3.4.2. Ficha Pedagógica – Censo Agropecuário

Desenvolver, na escola, estratégias para o Desenvolvimento Local Sustentável.
Construção do Censo Agropecuário do Município.

Apresentação

Esta ficha tem como objetivo contribuir com a escola no sentido de ajudar a comunidade a se conhecer melhor. Desta vez, trata-se de conhecer os dados da agricultura e da pecuária e o trabalho dos moradores no que dizem respeito ao plantio, à criação de animais e aos serviços ligados ao campo. Dividida em quatro etapas, esta ficha vai possibilitar a criação de produtos iniciais, intermediários e finais. Ela exige uma preparação por escola, para os educadores planejarem a melhor forma metodológica fazendo as adaptações necessárias à prática pedagógica.

Como se percebe, é um instrumento que pode servir a vários níveis e várias modalidades de ensino-aprendizagem da organização escolar trazida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional — LDB. Nesse sentido, a metodologia aplicada propõe a criatividade, habilidade e reinvenção da prática pedagógica, possibilitando o desenvolvimento das competências dos atores envolvidos.

Esta ficha não é uma ferramenta acabada e pronta. É apenas um roteiro, um instrumento que não substitui o trabalho criativo, original e único que só os educadores têm condições de fazer na prática pedagógica e na sua organização didática. É importante que ela seja estudada antes do inverno chegar, pois vai ajudar a sensibilizar e mobilizar a comunidade para o plantio durante o período chuvoso. Se ficar para depois, não vai sensibilizar a comunidade no tempo certo, deixando de intervir nas transformações social, educacional e econômica da comunidade. A escola pode também estudar de forma diversificada, considerando o nível, o ritmo de aprendizagem e também as séries dos educandos.

Parte 1

Questões para encaminhar as pesquisas

1. Na sua casa, alguém (pai, mãe, irmão ou irmã) está querendo plantar no próximo inverno?

2. A pessoa que quer plantar já tem terra reservada? De quem é a terra? De que tamanho é a terra em que estão pensando plantar?

3. A terra já está preparada e pronta para o plantio? Que serviços estão faltando para ficar pronta?

4. Que lavoura ou fruteira estão pensando em plantar?

5. Que quantidade de semente, maniva ou muda será necessária? Já têm a quantidade suficiente de sementes? Se não têm, onde estão pensando conseguir?

6. Na sua casa, quem cria animais e de que tipo eles são?

7. Quantos são os animais de grande porte: cavalo, burro, jumento, boi?

8. Quantos são os animais de pequeno porte: carneiro, bode, porco?

9. Quantos são os animais de porte miúdo: coelho e preá da índia?

10. Quantas são as aves: galinha, peru, guiné, pato?

11. Onde dormem os animais que são criados em casa?

12. Quais são as doenças mais comuns que afetam os animais que são criados em casa?

13. De onde vem o alimento dos animais criados em casa? Quais os são alimentos produzidos no próprio terreno da família? Quais são os alimentos produzidos fora ou comprados?

14. Quais são as fruteiras que existem em casa e quantos pés há de cada tipo? Qual é o período de safra das fruteiras? Quem as plantou e em que época?

15. Além das frutas, o que mais se aproveita das fruteiras?

16. Quem sabe fazer doce, licor, geléia, conserva, sorvetes ou outros derivados das frutas?

Parte 2

O desenvolvimento e o desdobramento dos dados levantados pelas crianças

1. Tomar o dever de casa, juntando os dados das pesquisas.

– Anotar os dados em colunas: por exemplo; quem tem terra para plantar e quem não tem. Pode-se fazer uma coluna para quem tem só em parte, mas não tem ainda a terra suficiente. Coisa parecida pode ser feita com semente, animais, etc.

Quem Já Tem TerraQuem Tem em ParteQuem Não Tem
   
   
Total (%)Total (%)Total (%)

– Com as colunas formadas com os nomes das próprias pessoas (aluno ou pai), explorar a idéia de conjunto, maior, menor, maioria, minoria, fração, percentagem, números relativos e números absolutos.

– Criar gráficos que representem as quantidades de pessoas com terra, sementes para o plantio ou com a quantidade de animais. Com relação aos animais, anotar em colunas, por tipo de animal. Pegar sempre todos os dados, mesmo que seja um animal só ou um plantio, por menor que seja.

2. Desenvolver as operações fundamentais com os dados das pesquisas.

– Os dados podem ser trabalhados na adição, subtração, multiplicação e divisão. O professor pode encaminhar inúmeros cálculos com os dados e, a partir destes, formular outros. Na Ficha Pedagógica Censo Populacional da Comunidade, há propostas com mais detalhes.

3. Exercitar a extração de médias dos dados das pesquisas e relacionar com outros números.

– Quanto dá a quantidade de terra para plantar dividida pelo número de famílias?

– Dividindo a quantidade de vacas por família, quantas vacas seriam de cada família?

– Quantos litros de leite são produzidos pelas vacas pesquisadas? Se dividir por família, quantos litros ficariam para cada uma?

– Para uma boa alimentação, que quantidade diária de leite uma criança precisa tomar?

– Quantas vacas seriam necessárias, na comunidade, para produzir meio litro de leite por criança da comunidade? Para criar esta quantidade de vaca, que área seria preciso?

– Promover debates com a classe sobre os resultados dos cálculos das médias.

4. Trabalhar unidades de medida de superfície e fazer equivalência com as medidas conhecidas pela população e o sistema decimal.

– Visitar um terreno com um pai de aluno e toda a classe, para aprender com ele como se mede um terreno.

– Estimular os alunos a fazerem este exercício medindo áreas que lhes são familiares: a sala de aula, a escola, a área de recreio, a sua casa, um plantio, etc.

– Fazer exercício com a braça de cubar a terra, trazida das casas ou medidas nas casas, usando fita métrica, metro ou trena, para conferir as medidas das varas de medir área de terra para o trabalhador limpar. Se não corresponder com exatidão (2,20 metros), fazer cálculo sobre o que ultrapassa em 1 conta, 2 contas, 3 contas e assim por diante.

– Fazer exercício de equivalência entre as medidas: palmo (22 centímetros), braça (10 palmos ou 2,20 metros), conta (10 braças ao quadrado ou 480 metros quadrados) e hectare (10.000 metros quadrados). Fazendo equivalência com as medidas usadas na região.

5. Trabalhar as unidades monetárias a partir do custo dos animais e dos produtos agrícolas e cruzar com outras medidas.

– Um boi é vendido em arroba de peso em pé, quer dizer, vivo. Um boi de tantas arrobas tem quantos quilos? Um quilo de carne é tanto, quanto custa uma arroba?

– Porco, bode e galinha são vendidos no peso: calcular o peso de cada carne e seus custos.

– Um porco, para adquirir tantos quilos, do jeito que as famílias costumam criar, leva quanto tempo? E pode ser vendido por quanto?

– Quanto tempo passa para um pinto chegar a ponto de comercialização? Ele é vendido por quanto?

– Por quanto se vende, na localidade, uma dúzia de ovos de galinha de capoeira.

– Qual a diferença entre um ovo de galinha de capoeira e um ovo de galinha de granja?

– Banana se vende em milheiro, cento, dúzia: calcular o preço de cada ordem, verificar o preço do produtor e o da feira.

– Quanto tempo uma bananeira leva para dar um cacho de banana?

– Qual o preço de um litro de leite? Quantos litros de leite são produzidos na comunidade?

6. Estudar o destino dos produtos feitos na comunidade e a origem dos produtos de fora que são consumidos nas famílias e na merenda escolar.

– Verificar com os alunos se na comunidade se produz alguma coisa que é vendida para fora e discutir quantidade, custo, frete, quilometragem entre o local da produção e o da comercialização.

– Estudar as embalagens dos produtos consumidos na merenda escolar ou nas famílias, discutindo sobre sua origem, seu processo de beneficiamento e industrialização, sua validade, unidades de medida, valor nutritivo, etc.

7. Debater com a classe a condição da produção local.

– A produção é muita ou pouca? Ela gera muita ou pouca renda. As famílias poderiam ter uma produção maior, por que não têm?

– Pesquisar sobre os alimentos consumidos na merenda. Eles poderiam ser produzidos na comunidade ou substituídos por outros alimentos produzidos na comunidade.

– Visitar, com os alunos, plantios e roças de produtores, de preferência pais, para entrevistá-los sobre os mesmos. Preparar com os alunos as perguntas que serão feitas aos entrevistados.

– Organizar, com os alunos, texto ou relatório da visita aos produtores.

8. Discutir a função dos animais e das suas fezes na relação com o equilíbrio do solo.

– Solicitar às crianças que levem amostras de bichinhos que habitam as camadas superficiais do solo.

– Dividir a classe em equipes para fazer a busca e coleta de amostra nos terrenos ao redor da escola, caminhando com as crianças junto a terrenos férteis e desgastados, para observarem seus hábitats.

– Ver o que acharam, por qual nome conhecem, onde mais encontraram, quais são seus hábitos, sua maneira de reprodução e sua relação com o solo e as plantas.

– Estudar a minhoca. Ler artigos e textos sobre a criação de minhocas para a recuperação do solo. Se possível, fazer visita a um minhocário. Se na escola houver horta, discutir sobre a possibilidade de criar minhocas.

9. Se houver casa de farinha próxima, organizar uma visita da classe em dia de farinhada.

– Preparar, com os alunos, perguntas para fazer uma entrevista com a família que estiver produzindo farinha.

– Caracterizar com a turma um diagnóstico sobre a produção da mandioca na região. Algumas sugestões:

– Qual a quantidade de mandioca que está sendo transformada em farinha?

– Qual a quantidade de farinha que vai sair dessa mandioca?

– Quantas horas vão gastar para fazer essa farinha? Quantas pessoas estão trabalhando?

– Qual o preço da farinha se fosse vendê-la no mercado?

– Quanto tempo tinha a mandioca que foi arrancada? Se deu alguma doença, qual?

– Se não fosse um verão tão seco, em quanto tempo a mandioca estaria pronta para arrancar?

– Na região, o plantio de mandioca é igual a esse, melhor ou mais fraco?

– Quais as etapas do serviço da farinha, da arranca até a farinha pronta?

– Que outros produtos, além da farinha, se pode tirar da mandioca?

– Levar as respostas anotadas, debater, redigir texto sobre o processo da farinha, desenhar, fazer casa de farinha em miniatura ou maquete.

– Tirar média da área plantada por família.

– Discutir a importância da mandioca e da macaxeira na cultura, na alimentação humana e na do animal.

– Buscar alternativas para melhorar o cultivo e o aproveitamento da mandioca na comunidade.

10. Discutir a relação que as crianças mantêm com os animais.

– Em que ajudam na criação:

– Alimentam os animais?

– Levam para amarrar no mato?

– Limpam suas instalações?

– Tiram leite?

– Aplicam remédios?

– Discutir com as crianças quem sabe o manejo dos animais.

– Redigir como se deve proceder ao manejo, os cuidados que se deve ter, etc.

– Perguntar pelo nível de satisfação em cooperar em casa nesses serviços.

– Informar-se se as próprias crianças têm animais, se já ganharam algum dinheiro com eles, quanto e em que período? Se conseguiram aumentar o número de animais.

– Perguntar pelos sonhos das crianças em relação aos animais: se gostariam de possuí-los, de aprender a cuidar deles, de a escola oferecer oportunidades para isso.

– Recolher histórias de trancoso que envolvem os bichos, contadas pelas famílias ou pela literatura; desenhar e dramatizar as histórias; escrever histórias e aprender a contá-las.

11. Desenhar e pintar paisagens da comunidade sobre as questões discutidas.

– Apresentar os desenhos uns para os outros. Juntá-los e formar histórias.

– Completar um desenho depois de um debate.

– Desdobrar um desenho em textos.

Parte 3

Encaminhamento das ações na escola e na comunidade a partir dos conhecimentos produzidos

– Preparar-se para apresentar à comunidade o resultado da pesquisa realizada,

– Tomar todas as providências necessárias para a preparação e realização do encontro com a comunidade.

– Elaborar tabelas, gráficos, textos, desenhos, planilhas, para a apresentação.

– Reunir todos os materiais produzidos e juntar com os de outras turmas ou de outras escolas para formar o diagnóstico da comunidade, distrito ou município.

– Discutir com a comunidade ações que possam melhorar a renda das famílias.

1. Plantio de roçado – propor a cada família que recebe bolsa que plante pelo menos uma conta de lavoura para melhorar a renda familiar em contrapartida à bolsa.

– Mobilizar as famílias com o apoio do município, da associação, das igrejas, dos grupos de educação de pessoas adultas, para que nenhuma família fique sem plantar.

– Organizar formas de apoio que reforcem essa iniciativa: buscar de sementes; trator; preparar em mutirão o almoço no dia do plantio ou da limpa.

– Convocar os alunos para mutirões, envolvendo as famílias que estão plantando ou limpando o roçado. Fazer do mutirão uma atividade escolar, observando o nível de participação, interesse e comunicação dos alunos.

– Estimular o plantio diversificado: milho, feijão, macaxeira, mandioca, batata, jerimum, inhame, melancia, sorgo, amendoim, gergelim.

2. Plantio de fruteiras – aproveitar as mesmas dicas do item 2.

– Estimular o plantio de mudas de fruteiras, os enxertos e o aproveitamento de quintais e áreas da própria escola.

– Fazer uma competição, para ver o aluno, a equipe ou a série que mais plantou fruteiras e que mais cuidou delas. Providenciar prêmios.

3. Criação de animais – utilizar a mesma estrutura do item 2 para que, depois do inverno, cada família passe a.

– Criar um animal pequeno ou grande porte, de acordo com a conveniência de cada comunidade.

– Começar o debate no primeiro semestre, para que, no plantio, já se pense no tipo de animal. Se for criar galinha ou porco, por exemplo, é preciso plantar milho; se for criar vaca ou cabra, é preciso plantar capim.

– Discutir bem, para que a iniciativa não seja caso isolado, mas refletida dentro do conjunto da comunidade e do município.

– Discutir projetos que financiem a criação de animais.

– Como sugerido anteriormente, premiar ou fazer competição entre os alunos para ver quem melhor e mais cria animais.

4. Mapear a área plantada da comunidade com as respectivas lavouras, pastagens de pisoteio e pastagem para ração, cana-de-açúcar, matas, capoeiras, fruteiras.

– Organizar um grande mapa que visualize as proporções de como o solo está ocupado, quão pouco lugar tem a lavoura, a agricultura e o próprio criatório, para que os alunos desenvolvam noções de espaço agrícola. Escrever uma legenda no mapa com números ou percentuais.

5. Utilizar, otimizar o terreno da própria escola, planejando o seu uso.

– Discutir a possibilidade de se construir uma horta na escola ou mesmo fora dela, mas cuidada pelos alunos.

– Solicitar apoio técnico para a confecção da horta, envolvendo as famílias dos alunos.

– Tornar todo o processo como oportunidade de ensino-aprendizagem. Estabelecer relação entre a horta e a merenda.

– Apresentar, em uma reunião com os pais, o quanto a escola gasta por dia, semana, mês, semestre e ano de alimentação e o que poderia comprar na comunidade enquanto existir o projeto ou economizar, com a participação das famílias, quando o projeto desaparecer.

6. Estimular a formação de comissões de trabalho na comunidade, para concretizar as idéias e sugestões dos encontros.

– Organizar, junto com os alunos e os familiares, uma comissão para conseguir terra e sementes e fazer mutirões para o plantio, etc.

– Organizar ações para a criação de animais.

Parte 4

Avaliação dos conteúdos, dos produtos, da aprendizagem, do processo e da participação

Para a avaliação, pode-se aproveitar todas as dicas das demais Fichas Pedagógicas. Em cada ficha vamos propor outras idéias para a avaliação.

Nossa cultura está imbuída de que nota e prova é o fim de todo um processo avaliativo, quando na realidade são meios e instrumentos para se avaliar. Voltamos a lembrar que, neste processo, todos ensinam e todos aprendem e, portanto, todos devem ser avaliados. Avaliação também se faz ao longo do processo, de forma contínua através do monitoramento dos educadores.

1. Avaliar os resultados conseguidos nas famílias e comunidades.

– Se as pesquisas, o aprofundamento, as análises, feitos na escola e com a comunidade, tiveram resultados que extrapolaram as paredes escolares, temos então um bom indicador de avaliação. Saber, por exemplo:

– Verificar quem e quantas famílias que não plantavam passaram a plantar e que quantidade plantaram a partir do debate na escola.

– Saber quem se interessou e se dedicou a criar algum animal que antes não criava.

– Conferir quantas fruteiras foram plantadas e se estão sendo cuidadas.

– Investigar em que mudou a relação das famílias quanto ao dinheiro da Bolsa-escola.

– Avaliar a maior ou menor cooperação das famílias com a escola.

2. Avaliar o nível de organização que a turma e a escola alcançaram com o desenvolvimento da pesquisa.

– Levantar o nível de desempenho na realização das tarefas: pesquisa, visitas, entrevistas, produtos, mapas, tabelas, teatro, histórias.

– Confirmar, junto a alunos, professores e familiares, o crescimento das habilidades de comunicação: fala, escrita, desinibição, vitória sobre o acanhamento e o medo.

– Identificar acertos, falhas e dificuldades nessa metodologia.

3. Avaliar os conteúdos aprendidos dentro da nova metodologia.

– Observar como os alunos, familiares e educadores estão se dando com este processo.

– Pesquisar o que precisa melhorar.

– Planejar a conclusão de alguma tarefa que ficou no meio do caminho.

– Planejar o uso de uma próxima ficha.


Esta ficha pedagógica foi uma contribuição do Serta para o Consórcio dos Municípios na Zona da Mata de Pernambuco em 1999. Destinava-se à preparação do Diagnóstico Municipal, tendo em vista a realização da Conferência Municipal de Desenvolvimento Sustentável.

Abdalaziz de Moura

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