3.4.1. Sugestões para preparação de Fichas Pedagógicas

Texto de fevereiro de 1996. A FICHA PEDAGÓGICA é um instrumento didático muito usado na Peads — Proposta Pedagógica de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável. No meu Livro anterior consta três — Censo Populacional, Censos Ambiental e Censo Agropecuário

Você professora ou supervisora que está aplicando o PROGRAMA EDUCACIONAL DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – PEADS já deve estar acostumada com o que chamamos de FICHA PEDAGÓGICA. São roteiros para ajudar na preparação das aulas, distribuídos com os 3 aspectos da metodologia: Conhecer (pesquisar, ver), Analisar (devolver, aprofundar, desenvolver) e Transformar (agir, fazer um plano de ação, vivenciar, interiorizar os conhecimentos. O que segue agora, são algumas sugestões para avançar mais no ano de 96.1

1. O QUE É IMPORTANTE COMO PONTO DE PARTIDA?

É bom saber que a metodologia não é a mesma coisa das técnicas e dinâmicas que se usa para animar os alunos, para pesquisar, para analisar, para transformar. As técnicas são mil e uma, e podem ser usadas de mil maneiras e fazem parte da Peads, de acordo com cada situação, cada turma, cada professora. Cada professora pode escolher as suas dinâmicas e técnicas que queira usar com seus alunos.

A Peads privilegia algumas dinâmicas, como o texto, o debate, a pesquisa, a ação extraclasse, o trabalho de grupo, o canto etc. Mas em relação as técnicas podemos dizer que a Peads não se diferencia muito de outras Propostas de Educação. Tem Proposta que usa até técnicas melhores, com mais recurso artístico ou sonoro, com mais cores, mais papel. Neste sentido, a Peads se assemelha a outras propostas.

Porém a METODOLOGIA DA Peads é diferente, é específica, é o que distingue de muitas outras Propostas. A ela estão subordinadas as técnicas, dinâmicas e atividades. Estas são escolhidas de forma que possam facilitar o desenvolvimento da Peads. Estamos dizendo isso, porque algumas professoras misturam ou confundem algumas técnicas usadas, sobretudo a pesquisa, com o PROGRAMA. Pensam que fazendo pesquisa, estão aplicando o PROGRAMA. Podem fazer pesquisas, mas não é só pela pesquisa que a professora pode afirmar que usa a Peads. O importante para compreender agora no começo do ano é que tem pesquisa que esbarra nela mesma, isto é, a professora passou, conversou um pouco na classe e depois ficou para lá, como tantos outros textos e leituras da escola tradicional. Esta pesquisa assim, não deslanchou um PROCESSO de continuidade, de desenvolvimento, de crescimento na produção do conhecimento, na aprendizagem. É o caso de a professora perguntar simplesmente quem já preparou o terreno, dar uma aulinha sobre as respostas dos alunos, e depois, continuar com outra questão que não tem nada a ver com esta. Quando for preparar a ficha, é fundamental, portanto, que a professora e supervisora estejam atentas à visão de processo, a ideia de desdobramento, de desenvolvimento, de inter-relação de uma pesquisa com outra, e com os conteúdos das disciplinas.

2. QUAL O ASSUNTO IDEAL PARA A PESQUISA?

Não tem uma regra para isso. Podemos dizer que o melhor é aquele, que a professora e os alunos desenvolvem como processo. É o tema que se pega no começo, se desdobra nas suas diversas partes, ou partes afins, e vai crescendo, descobrindo relações, somando-se com outros. E tudo isso dentro da metodologia. Se a professora passa uma pesquisa ela não se conforma só com a resposta de alguns alunos. Ela volta a insistir, a complementar, a desdobrar, e aí ela já está desenvolvendo a segunda parte da metodologia, que é o analisar, o desdobrar, o desenvolver, o julgar.

Avançando mais, ela vai tentar que os alunos não fiquem só no conhecimento intelectual das coisas, só com a fala, ou com a escrita. Ela vai ajudar os alunos e a si mesma a vivenciar, a experimentar com outros sentidos, a cantar, a fazer uma ação, a tomar uma atitude, a fazer uma oração, a assumir alguma responsabilidade diante do que aprendeu com a pesquisa e com o desdobramento.

3. PONTOS DE PARTIDA

Na nossa prática estamos utilizando dois. Em Surubim, município mais do Agreste, com menos chuva e mais seca e pecuária, sugerimos as estações do ano, que mais ou menos correspondem com o bimestre. Tem uma série de vantagens porque no conjunto todas as escolas estão estudando a questão, fica mais fácil influenciar também os pais e dar uma visão de continuidade, de processo, de juntar o trabalho de uma classe com outra, de uma escola com outra, e assim, ir conhecendo mais o conjunto do município. Veja mais adiante algumas dicas neste assunto.

O outro ponto é a partir de estudo de produtos ou questões que sejam de grande significação para o município, como por exemplo, a mandioca para Glória do Goitá e o Chuchu para Chã Grande, a cana para os municípios da cana, a Sulanca2 para o município de Santa Cruz do Capibaribe, a banana para o município de Machados ou São Vicente Ferrer. Dentro do próprio município de Chã Grande, apesar de pequeno, há áreas onde não se planta chuchu, planta-se mais fumo e mandioca e assim por diante.

Ao pegar um desses dois pontos de partida, o importante é que não se pegue a toa, mas dentro de um conjunto, de uma perspectiva, tendo uma preocupação pela frente que nos guia, isto é um objetivo, sobre o que queremos com tal atividade, com tal pesquisa, e com esta tal da Peads? Aonde queremos chegar com ela? Mas este assunto é tema para muitos outros textos e para nosso futuro livro.

4. SUGESTÕES DE TEMAS PARA AS FICHAS PELO CALENDÁRIO AGRÍCOLA

1. A situação de quem já tem terra para plantar, preparo da terra, tamanho da terra, pessoas que estão sem terra para plantar no próximo inverno, medidas que se tomam para conseguir a terra para o plantio. Com as séries mais adiantadas, os problemas que existem a partir daí, o êxodo rural, a relação cidade campo, o estímulo e o desengano da agricultura. Objetivo: ter um conhecimento mais preciso da distribuição da terra na comunidade, fazer com que o assunto seja falado e conversado sem tabu, sem medo, etc.

2. A Situação da semente para o plantio. Quem tem, que tipo, como se consegue, em que tempo, qual tempo ideal, como faziam os antigos, porque se perdeu o hábito dos antigos que guardavam, e hoje ficam na dependência dos políticos ou deixam para ver nas últimas horas. Quais os tipos de sementes mais comuns no lugar, porque esses e não outros, existem melhores em outros cantos, as técnicas modernas e antigas de guardar sementes, iniciativas dos agricultores diante do tema, iniciativas do governo, sugestões para a prefeitura, o sindicato, a associação. Como é a semente, como ela se reproduz, as partes que a compõem, o comércio das sementes, os preços.

3. As condições do solo, as maneiras de preparar, as queimas, as formas de plantar, a erosão, as causas e as consequências da erosão, o que diferencia um solo bom de um ruim, como uma terra se esgota, o desmatamento, a desertificação, o aumento do calor por conta do desmatamento e vice-versa. O solo como era e a vegetação no tempo dos avós. A política da comunidade para com o solo, o que faz a associação, o sindicato, a prefeitura, o vereador. Como conversar estes temas com essas entidades e etc.

4. As condições de trabalho para o plantio, os ferramentas, o crédito, recursos que as famílias usam para “tocar a roça”, os processos de trabalho com enxada, com trator, com arado, diferença de um e outro.

5. Condições de trabalho no verão: famílias que saem para a cana e a capital, a situação de água em casa e para os animais, a mão de obra que se exige para isso no verão e no inverno, a questão da ração para os animais no verão, como fazem, como as crianças participam, que tempo exige da família, como interfere na presença na sala de aula e etc.

6. Os serviços de verão: limpeza de barreiro, construção de casa, cerca, olarias, estradas. Em que o pessoal trabalha, o que e como e quanto ganha. A situação das famílias que alguns membros se ausentam para ganhar o pão.

5. PELOS PRODUTOS OU QUESTÕES

1. Estudar um produto nos seus diversos aspectos, produção, preparação do terreno, sementeira, limpa, as doenças e pragas, a irrigação, a adubação, a mão de obra necessária, os empregos que se cria por conta da sua produção, semente, colheita, beneficiamento, o uso que poderia melhorar, como em que, custos, prejuízos e lucros, comercialização, importância cultural, histórica, folclórica, na alimentação, na medicina, na indústria, o transporte, a origem, o valor nutritivo, as receitas. Um exemplo bem completo foi o roteiro para o estudo da mandioca do ano de 1995.

2. Um tema específico de uma localidade. Neste sentido a Feira de Surubim trouxe um considerável número de produção de conhecimentos. Todos podem ser reelaborados, completados, enriquecidos. Alguns foram bem completos, como sobre a Mangueira, a Batata Doce. Poderiam completar com outros produtos, estudar outros aspectos, desenvolver mais a ligação inicial que despertou, por exemplo, a história de Chéus, as costureiras antigas e novas, o rio Cai-aí, a pedreira e o artesanato do Diogo, o algodão do Junco, o leite de vários lugares, a casa de farinha, as fruteiras, as plantas da região, as pragas. Enfim, tudo o que foi feito encima de um evento como a feira, com pouco tempo, sem muita compreensão, agora pode ser feito com calma, mais a fundo, com maior participação.

Esperamos que estas sugestões possam contribuir com a melhora das aulas. Na avaliação dos três municípios em dezembro, ficou acertado que cada município cuidaria de suas fichas pedagógicas e que as professoras deveriam participar da construção das mesmas o máximo que puder.


Notas:

1 A partir de 1997 o Serta acrescentou a essa proposta uma quarta etapa da metodologia, que é a de Avaliação.

2 Nome tradicional dada ao Polo de Confecções do Agreste do Agreste Central de PE que integra vários municípios liderados por Caruaru.

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