A PRODUÇÃO E O ACÚMULO DE CONHECIMENTO – AGOSTO DE 1995
Na avaliação do primeiro semestre de 1995, por ocasião do encontro intermunicipal das professoras rurais, se constatou que alguns pontos estão bem mais avançados do que outros na compreensão e prática. Entre esses, a PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO, o CONHECIMENTO DO MEIO RURAL, a APRENDIZAGEM DA PROFESSORA SE DESTACARAM.
No entanto, observa-se que este conhecimento produzido ainda está só na sala de aula, nas anotações das professoras, e nas testemunhas das mesmas por ocasião dos encontros. Bem que ele poderia ser mais sistematizado, arrumado, aprofundado e documentado. Neste sentido, os Seminários Municipais de Educação para o Desenvolvimento podem ser um ótimo estímulo. Concretamente como seria possível fazer isso?
Em setembro do ano de 1994, no encontro de avaliação do terceiro bimestre em Surubim, as professoras deram muitos depoimentos sobre os conhecimentos produzidos com as pesquisas que seus alunos fizeram sobre a produção do inverno de 94. Falaram da produção do milho que foi muito ruim, levantaram várias hipóteses sobre a fraca produção, sobretudo em relação a semente, solo, chuva. Falaram sobre o feijão, a batata que teve boa produção. Saiu muita informação sobre o preço dos produtos colhidos na época e etc. Depoimentos
como estes tem sido a constante nos encontros das professoras.
Vamos ficando sempre assim, dando bons depoimentos ou vamos em cima dos conhecimentos já produzidos pelos alunos, produzir algo mais? Essa é a questão colocada agora para nossa reflexão. Vamos partir de um exemplo concreto, o milho, mas poderia ser a mandioca, a batata, o feijão, a água, a planta medicinal, a fruteira, o gado, o tamanho da terra.
Vamos partir também de uma classe e de uma série. Uma professora passou algumas pesquisas para seus alunos para saber a produção do milho da sua família neste ano. Saber a área que foi plantada, saber a quantidade de semente, saber o quanto produziu, o preço da comercialização a nível de produtor.
Vamos supor que ela tenha uma semana para completar cada informação dessa por parte dos seus alunos. Nem todos trazem no primeiro momento, precisam de mais dias, de mais cobrança da professora. No máximo, uma semana, a professora tenha construído a informação: Tantas famílias plantaram tanto (área e semente) de milho. O que fazer com essa informação, além de desdobrar com os alunos? Além de transformar em conteúdos de matemática e português?
Seria muito bom que a professora pudesse construir um PRODUTO FINAL com esta informação. O que seria isso? Poderia ser um cartaz com o nome dos alunos, a quantidade produzida por cada família, a soma total, a média por cada família. Poderia ser uma folha de papel, poderia ser algum gráfico. Algo que permanecesse por um tempo e não pudesse ser apagado como giz.
Esse Produto Final é como uma síntese de várias atividades, iniciativas e debates com os alunos. Uma vez pronto, ele vai servir para complementar outras informações, como por exemplo, qual a quantidade de milho que foi produzida nessas áreas, qual a produção média por família, o preço desta produção no mercado local.
Uma outra possibilidade é se na mesma escola tem outra professora, turno ou série que topou produzir conhecimentos sobre a mesma realidade. As duas trocam as informações, juntam, completam. E aí, a produção do conhecimento fica maior. Mais famílias, mais área, e uma média por família mais precisa ainda. A informação que uma professora conseguiu com 20 alunos, vamos supor, são de 17 famílias, por que uma não plantou e duas tem dois filhos na mesma turma.
Se duas professoras se juntam com as informações produzidas em cada classe, é possível conseguir uma informação de mais de 30 famílias. Já é um conhecimento mais profundo desta realidade. Se outras professoras, passam a fazer o mesmo, o conhecimento vai cada vez mais aumentando. Assim, a professoras de Surubim, vão descobrindo a realidade do município e formando novos produtos, cartazes e textos maiores, uma cartilha, um álbum seriado ou qualquer outro produto.
Produtos como estes é que poderão ir para a feira de ciência, para a exposição no Seminário Municipal de Educação. Serão mostradas pelas
professoras, pelos alunos, reflexões serão desenvolvidas a partir deles. Com esses produtos novos, as professoras e supervisoras produzirão novos produtos, fichas para aula, roteiro para capacitação, textos para leitura e etc.
Podemos imaginar assim, uma exposição com muitos produtos. Vários quadros, cartazes sobre o milho em tal e tal comunidade, sobre a produção de tantas famílias, sobre a média por família, a média por hectare. Uma reflexão sobre se esta quantia é suficiente para as famílias atravessarem o ano, ou se terão de comprar, e no caso, quanto precisariam. Uma reflexão sobre o preço do milho, o uso dele para os homens, animais e indústria.
O mesmo pode se imaginar com o feijão, com a batata, com a produção pecuária, com a castanha, as frutas, o tamanho das propriedades, o êxodo rural, as plantas medicinais. Nos encontros das professoras, estes dados seriam complementados, aprofundados, para que a realidade do município, aos poucos pudesse ser conhecida pelas suas educadoras e seus futuros cidadãos.
Retomar-se-ia de novo as informações. Se perguntava, como continuar transformando em aulas de português, matemática. Continuando assim, cada ano, não precisaria repetir as fichas do mesmo ponto do ano anterior. Teria sempre coisa nova para aprofundar, novas pesquisas, novas devoluções.
Com a exposição desses CONHECIMENTOS PRODUZIDOS para o público, este ia saber o que a escola rural é capaz, o tanto que as professoras rurais estão sendo capazes, quais os instrumentos que estão usando para produzir conhecimentos, para educar para a cidadania. Assim, tomariam contato com uma nova metodologia.