2.3. Aprofundamento sobre as Diretrizes da Peads

APROFUNDAMENTO SOBRE AS DIRETRIZES DO SERTA

Editado por Abdalaziz de Moura
Publicado: abdalazizdemoura.com.br
Série: Estudo Doc. 03. abril de 1997

Quem se lembra da Assembleia de avaliação de 1996? O SERTA saiu dela bem diferente do que era. Uma de suas preocupações maiores foi entrar em 97 mais sistematizado, mais estruturado. O SERTA ampliou sua equipe técnica, resolveu estudar mais. Definir melhor seus Princípios, suas Diretrizes, sua Metodologia. O primeiro boletim da série estudo, tratou de explicar os PRINCÍPIOS E AS DIRETRIZES, o segundo detalhou os Princípios.

Este, o terceiro agora vai detalhar as Diretrizes. As Diretrizes tem outros nomes. Chamam também de Orientações, Linhas de ação ou Estratégias. Há quem misture com os próprios Princípios. Na realidade concreta, estão muito juntos, fica até difícil distinguir o que é Diretriz e o que é Princípio. Porém, na compreensão que temos das coisas, é importante distinguir um do outro, para melhor entendê-los.

No Boletim 02 da Série Estudo já adiantamos algumas coisas sobre as Diretrizes. Quando anunciamos um Princípio, explicamos a consequência dele na ação. Por aí, o leitor ou a leitora percebe o quanto é importante acompanhar as publicações do SERTA. Podemos perguntar a cada um pelo empenho que está havendo neste sentido. Quem não teve acesso aos números anteriores, procure. No primeiro está bem explicado o que são Diretrizes. Aqui vamos enumerá-las e aprofundar seu conteúdo.

INTRODUÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA PEADS

Se acreditamos que o homem e a mulher modernos precisam construir uma relação mais harmoniosa com a natureza, isso tem consequência nas nossas ações, nos nossos trabalhos, na maneira de conviver. Tiramos então deste princípio, a orientação para as ações, ou as Diretrizes, as Linhas de ação que guiam o SERTA.

1. PRINCÍPIO: ACREDITAMOS NA NECESSIDADE DO HOMEM CONSTRUIR UMA RELAÇÃO MAIS HARMONIOSA COM A NATUREZA.

1. DIRETRIZ: DESENVOLVER TÉCNICAS DE PRODUÇÃO E MEIOS DE CONVIVÊNCIA QUE FACILITEM O EQUILÍBRIO COM AS LEIS DA NATUREZA.

Esta primeira Diretriz, por exemplo, está dizendo que as pessoas comprometidas com as Diretrizes do SERTA, vivem se empenhando em construir mais conhecimento, ter mais estudo, experiências e pesquisas, para ser coerente com o Princípio, com a crença, com a ideia que têm das coisas.

Essa Diretriz, é consequência deste Princípio, serve para todos que participam: agricultor, professora, técnico, agentes comunitários, lideranças sindicais etc. Cada um no seu campo vai abrir caminhos, facilitar e pautar o seu trabalho por essa Diretriz. Examine bem as suas atividades, veja se é assim.

2. PRINCÍPIO: ACREDITAMOS QUE O DESENVOLVIMENTO É POSSÍVEL, VIÁVEL, SUSTENTÁVEL E JUSTO

2. DIRETRIZ: BATALHAR JUNTO AOS MUNICÍPIOS E AS ORGANIZAÇÕES LIGADAS AO MEIO RURAL, PARA QUE COLOQUEM NA SUA AGENDA DE SERVIÇOS, OS PROBLEMAS DO DESENVOLVIMENTO RURAL

Desde 1992, que o SERTA propôs que os municípios organizassem um Plano Diretor de Desenvolvimento Rural. Falamos na questão rural, não é porque queremos só o Desenvolvimento Rural. Queremos que o Desenvolvimento seja integral, rural, urbano, econômico, social etc. Dizemos rural, apenas, porque tem sido o campo da nossa especialidade e da maioria das nossas ações.

Insistimos também no Rural, porque muitas coisas dos problemas da cidade, os municípios já estão convencidos que devem ter na sua pauta de serviço. A própria Constituição insiste nisso. Mas a mesma Constituição nem fala em município, fala em cidade com mais de 22.000 habitantes, como se só a cidade precisasse de Plano Diretor.

Desde 1992 nos orientamos por esta Diretriz. Naquela época (hoje mudou), Alguns Movimentos Sociais e Organizações não-governamentais tinham receio de cobrar estes posicionamentos das autoridades municipais. O SERTA insistiu nisso, porque a concepção de Desenvolvimento Sustentável que partilhamos, exige um Desenvolvimento que parta das bases locais, geográficas e sociais. E não que venha só de cima, mas que se encontrem as vontades de quem está na base e de quem está no poder central.

Por isso que não cobramos só do município o fato de ter a agricultura na sua agenda. Cobramos de outras instituições, por exemplo, do Sindicato de Trabalhadores Rurais. Tem sindicato que tem na sua pauta, a previdência social, a saúde, a Reforma Agrária, os direitos trabalhistas, a Política do Governo Federal, mas não discute a produção do município, não discute o solo, os preços dos produtos, as sementes, os planos municipais.

Não têm uma comissão, uma equipe, para pesquisar, pensar e programar atividades neste campo. Cobramos de associações de produtores também. Tem associação que só pensa projetos para eletrificação, casa de farinha, mas que não pensa um programa de Desenvolvimento mais amplo para sua comunidade, não faz pesquisa, não planeja, não constrói orientações para a ação de seus sócios e dirigentes.

Isso não deveria acontecer onde tem um membro do SERTA sócio desta associação. Os Educadores e Técnicos do SERTA precisam estar atentos a isso. Em consequência desta Diretriz, desenvolvemos a Proposta de Educação Rural (PER). Nela a Escola coloca na sua pauta, nas suas classes, nas aulas, nos textos, nos deveres, no seu ensino, a questão do Desenvolvimento e da agricultura. Tenta chamar a atenção dos alunos, dos familiares e das pessoas em geral, para a importância que tem de falar e estudar os problemas das comunidades. O mesmo o SERTA faz com os Agentes Comunitários de Saúde, insiste que discutam na comunidade os seus problemas a partir das pesquisas que fazem.

3. PRINCÍPIO: ACREDITAMOS QUE O DESENVOLVIMENTO SE CONSEGUE COM A PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA

3. DIRETRIZ: BATALHAR JUNTO À SOCIEDADE CIVIL E ÀS PREFEITURAS PARA QUE RECONHEÇAM A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA NA GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO

O conceito de participação está um pouco desgastada. Mas mesmo assim, aos poucos os grupos vão construindo melhor esta ideia e conceito. Há autoridades que entendem isso quase sempre, só do ponto de vista formal. Por exemplo, pensam que se tiver Conselho no município, tem participação democrática. Nós sabemos que não é assim. Participação não é uma coisa que se concretiza só numa lei, só no papel, em um Conselho, como o amor não se concretiza só no casamento formal. Participação é um exercício permanente, uma maneira, um estilo, um jeito de discutir os problemas, e as soluções.

A necessidade da Democracia Participativa não é coisa só para o município, é também para a escola, para a associação e o sindicato. Tem sindicatos e associações, com menos democracia do que em muitos municípios. Sem comissões, sem grupo de trabalho, sem divisão de tarefas. Equipes, comissões específicas de trabalho, estão para as associações e sindicatos, como os Conselhos para os municípios.

A participação democrática precisa se concretizar em uma gestão das coisas, com planos, com avaliação permanente. Isso na escola, na ação dos professores, dos produtores, dos educadores, dos técnicos dos Agentes de Saúde.

4. PRINCÍPIO: ACREDITAMOS QUE O CONHECIMENTO TEM UM PAPEL IMPORTANTE NA COMPREENSÃO DO MUNDO, E NA TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE

4. DIRETRIZ: FAZER DO CONHECIMENTO UMA FERRAMENTA INOVADORA PARA CONSTRUIR O DESENVOLVIMENTO

Muitos problemas da vida cotidiana podem ser resolvidos com os conhecimentos práticos, adquirido pela experiência, alguma leitura, algum preparo. Na agricultura, por exemplo, se viveu milênios só com o conhecimento que os pais passavam para os filhos. Hoje não dá mais. As pragas, as doenças das plantas, os problemas de solo são problemas novos, não dá para resolver com os conhecimentos dos nossos pais, nem antepassados. Pode ter questões que ajudam. Mas precisa de um conhecimento científico, de uma análise de laboratório, de pesquisas etc.

O que acontece com a agricultura, existe com todas as formas de conhecimento. Não dá para ficar discutindo os problemas só a partir da opinião “do achismo”, de um ou de outro. O SERTA atua em muitos campos que são novos, ou pelo menos a maneira de se tratar esses campos, são maneiras novas. Por exemplo, a política participativa, o Desenvolvimento Sustentável, a Proposta de Educação Rural, são coisas novas, com pouco conhecimento acumulado pela experiência. O conhecimento hoje se acumula com a ciência. Nem mesmo a ciência tem a chance de oferecer toda a luz que se precisa para tratar as questões novas. Mas cabe a quem sente o desafio, o esforço de ampliar sempre o conhecimento que tem.

Por isso, que não dá para entender um educador, uma professora, um técnico do SERTA, que não pesquise, que não esteja sempre inovando conhecimento. O agricultor também! Esta precisa estudar mais do que nunca, pois os problemas deles hoje, não se resolvem só com a experiência deles, nem de seus pais. O desafio é complexo, difícil, tem que se estudar. Daí a necessidade de multiplicar as oportunidades de conhecimento inovador.

Podemos nos perguntar se o SERTA está conseguindo intervir na realidade com ferramentas novas, com conhecimento inovador. Se não estiver, está mal!…

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