4.3.2. Situação da Educação do Campo em Surubim – 1996

1. A SITUAÇÃO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO EM SURUBIM NO SEGUNDO SEMESTRE DE 1996

Outro documento histórico que revela a criação da proposta de Educação do Campo no primeiro município que começou em 1993 e 1994.

Hoje em Surubim, as professoras que estão envolvidas na PEADS, estão numa situação diferente em relação a todas as outras no período de 93 a 95. Finalmente, podemos ter a certeza de que as professoras que abraçaram esta Proposta fizeram com toda sua liberdade. Podemos contar agora com a paixão, o desejo e a opção de cada uma. Esperamos agora um grupo que tenha fome de aprender, de ousar.

Agora, podemos pensar um programa de capacitação, sabendo quem são as professoras de cada escola que estão comprometidas com a Proposta. A cada encontro, a cada estudo, poderemos dar passos, porque temos a certeza de que quem está presente, está por que escolheu. E não porque o Secretário chamou. De agora em diante pode-se contar com um time, com equipes que vai procurar autonomia, criatividade e prazer na aplicação da mesma.

Há tarefas novas e inovadoras para produzir conhecimentos, para ensinar aos alunos e alunas a aprender a estudar, para continuar produzindo conhecimento mesmo fora da escola. As Agências Internacionais para o Desenvolvimento como a ONU, a UNESCO, o UNICEF, o Banco Mundial cobra mais do que nunca tarefas novas da educação, sobretudo da escola básica. Multiplicam-se as iniciativas e cobranças de toda a sociedade civil organizada para novas respostas ao problema educacional brasileiro.

Essa construção se fará a partir de experiências localizadas, experimentadas em dimensões locais. Neste sentido o que se pratica em Surubim, é uma experiência que concorreu a um prêmio com 402 outras iniciativas de educação no Brasil, e foi escolhida em terceiro lugar no prêmio Educação-Participação do UNICEF e Banco ITAÚ. Esse prêmio foi mérito de pessoas de Surubim e de outros municípios que resolveram acreditar nas suas capacidades. Porém, suas raízes estão ainda fracas e não temos certeza da sua capacidade para atravessar o verão das eleições municipais. Daí a grande responsabilidade das professoras que estão assumindo a Proposta de Educação do Campo nesta condição. Para compreender melhor este novo estágio, vamos recuperar um pouco a experiência do município desde 1993.

Primeira fase: teste

Em março de 1993, foi realizada a primeira apresentação da Proposta a 37 professoras escolhidas pela Secretaria de Educação. Outros encontros se sucederam e a presença destas nos encontros despertou a curiosidade de outras que ficaram também cobrando uma participação. Até o final do ano, a Proposta era um ensaio, uma ideia ainda embrionária. Não tinha textos, nem roteiros produzidos. Na avaliação do final do ano, as professoras solicitaram algo mais concreto para ajudá-las no dia a dia das aulas, e propuseram estender às demais professoras.

Segunda fase: Extensão a todas às professoras rurais, 1994.

O entusiasmo inicial das pessoas envolvidas com a Proposta levou a Secretaria Municipal a estender a todas as escolas rurais. Hoje sabemos bem que foi um passo bem maior do que as nossas pernas. Era média de quase 300 professoras, divididas em quatro setores, com reuniões de mais de 50 pessoas. Nos encontros seguintes para acompanhamento, já não se dispunha do dia completo, era só um expediente. E várias professoras não se sentiram motivadas e outras não entenderam a Proposta. Cada vez que se reuniam, tinham sempre gente no nível inicial e não se podia avançar muito.

Neste período o SERTA já produzia fichas pedagógicas e outros textos para estudo, e a Proposta já contava com as contribuições das próprias professoras e supervisoras. Mesmo assim, se pensou que depois de um encontro interestadual em janeiro com grupos da Bahia, se formaria um grupo para dar um acompanhamento mais sistemático às professoras em 95.

Terceira fase, 1995.

Este grupo foi formado por professoras e supervisoras, mas 1995 foi um ano difícil. Houve concurso no meio do semestre, algumas professoras que se interessavam pela Proposta não foram aprovadas e deixaram de ensinar. As que foram aprovadas deixaram também de ensinar, porque não foram convocadas para assumir. Muitas escolas tiveram que juntar turmas, e as supervisoras tiveram de se desdobrar para superar esta fase, de modo que os encontros ficaram muito sacrificados. Mesmo assim, a Proposta avançou. Houve em julho um encontro com os três municípios: Surubim, Glória e Chã Grande, muito rico de troca de experiências.

Com muita dificuldade, atraso de pagamento, salários baixos, as professoras realizaram assim mesmo a Feira de Educação do Campo de Surubim e um vídeo foi produzido. Fechamos um ano com a alegria do prêmio do UNICEF-ITAU, que veio legitimar a Proposta diante da opinião pública.

Quarta Fase: a atual de 1996

Já no segundo semestre, ficou claro que não dava para continuar estendendo a Proposta a todas às escolas rurais e professoras. Persistia a resistência de algumas professoras, e a dificuldade de outras de entender e aplicá-la. Havia pessoas até que gostavam da ideia, mas não se sentiam em condições de desenvolvê-la. A decisão então foi deixar inteiramente livre para as professoras que quisessem fazer uma escolha. Para com esta definição, se ter o número certo de pessoas a ser acompanhado e cobrado. Este ano entraram também professoras novatas. A elas também se proporia a escolha. Nesta fase atual nós nos encontramos. Um tempo muito especial para a história desta Proposta.

Como é do conhecimento de todas, a Proposta nasceu dentro de uma entidade não governamental, que inclusive, não atuava no campo da Educação Escolar e Formal. Fazia muita capacitação com produtores rurais e técnicos, mas não no campo de escola. As entidades não governamentais durante muito tempo não se aproximavam do poder público, e este não olhava bem para as mesmas, porque eram sempre grupos com muita autonomia e liberdade de pensamento e ação. Hoje, a situação é diferente. Há muitas organizações não governamentais, conhecidas pela sigla ONGS, que ainda não aceitam ligação com o poder público. Sobretudo por conta do risco que estamos correndo agora.

É que o poder público municipal tradicional no Nordeste, quando chega a renovar os seus responsáveis, cada um que mude tudo o que o outro começou, até mesmo, quando são do próprio partido do anterior.

Sendo assim, as experiências que começam correm o risco de não serem retomadas no governo seguinte. Isso é difícil de acontecer com as ONGS porque elas dão continuidade às ações, sejam quais forem os seus dirigentes. O que muda são coisas acidentais. O SERTA é uma das ONGS que tenta aproximação com o poder público municipal.

De modo que as professoras envolvidas neste momento, tem uma grande tarefa além das cotidianas e de sempre com a escola, os alunos e familiares. Qual é esta tarefa? É de consolidar de tal forma a Proposta nas escolas, nas aulas, com as comunidades, nos encontros das professoras, que no próximo ano, esteja bem enraizada. E que este ano ainda, ela possa ser discutida com os candidatos e a sociedade civil, através de debates públicos, bem preparados e planejados.

O SERTA se alegra muito com este nível que foi alcançado e acredita muito na possibilidade dos futuros eleitos continuarem apoiando esta Proposta de Educação do Campo, independente de partido ou tendência política.

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